60 anos depois, o povo judeu, que viveu sempre em fuga, tem finalmente o seu próprio Estado. A maioria dos que o lamentam olham para Israel como mais uma peça de um enorme tabuleiro de xadrez e vêem os palestinianos como a linha da frente na resistência ao Império. Suspeito que nunca compreenderão o significado histórico da fundação do Estado de Israel.
Do outro lado do espelho estão os novos anti-semitas. Contra aquilo a que chamam relativismo cultural, vêem Israel como uma fortaleza da civilização ocidental no meio de barbárie. Querem os israelitas no lugar da vítima e Israel como trincheira de uma guerra global contra o Islão. E procurando a legitimidade histórica que não têm, não hesitam em transportar para os muçulmanos todas as culpas dos crimes europeus. Uns e outros querem adiar a paz porque olham para o Médio-Oriente com um simples campo de batalha.
Mais de 60 anos depois do Holocausto, o povo judeu conquistou finalmente o direito à dignidade. E isso é motivo de festa. Mas como o carrasco não é mais livre do que o prisioneiro, o povo de Israel continua a viver numa prisão. A guerra, a criação de guetos, o muro da vergonha, a punição colectiva do povo palestiniano, o roubo de propriedades e de terras e a bestialização do outro continuam a adiar a libertação do povo de Israel. E não vale a pena ter ilusões. Ela só acontecerá quando a Palestina celebrar a fundação do seu próprio Estado, livre, independente e viável. Só então Israel poderá festejar a sua liberdade plena sem esquecer nenhuma vítima, sem premiar nenhum carrasco.
In: Arrastão
quarta-feira, 28 de maio de 2008
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