Entre a maioria dos empresários afetos ao PSD circula hoje a idéia de que não faz mal o Governo ser do PS – porque Sócrates está a fazer exatamente as mesmas reformas que o PSD faria.
Em todas as áreas.
No que respeita à Saúde, o que faria o PSD de diferente?
Não é verdade que destacadas figuras social-democratas, como Manuela Ferreira Leite ou António Borges, defenderam o rumo traçado por Correia de Campos, como o encerramento de urgências e de outros serviços, e a sua concentração em unidades maiores?
E quanto à Educação?
Não é verdade que o PSD defendia há muito tempo a avaliação dos professores, além de outras medidas como a substituição dos Conselhos Diretivos por diretores?
E quanto às leis laborais?
Não está Sócrates a prosseguir as reformas iniciadas por Bagão Félix?
A grande diferença – que alguns empresários ainda não perceberam – é que o PS pode fazer estas reformas, mas o PSD não poderia.
Quando dizem que tanto faz o Governo ser do PS como do PSD, enganam-se redondamente – porque o PS tem condições para fazer as reformas sociais que o PSD nunca conseguiria fazer.
Imaginemos que José Sócrates era líder do PSD e não do PS, e que o PSD estava no Governo.
O ambiente no país seria de cortar à faca.
O PS acusaria o Ministério da Saúde de querer fazer poupanças à custa dos doentes (recorde-se a frase usada na primeira campanha de Guterres: «As pessoas não são números»).
Os socialistas acusariam o Ministério da Educação de perseguir e desautorizar os professores, responsabilizando a ministra pelo clima envenenado que se vive nas escolas.
O Ministério do Trabalho seria apresentado como querendo regressar ao fascismo, humilhando os trabalhadores.
Se Sócrates fosse líder do PSD e primeiro-ministro, estaria certamente a tentar fazer as mesmíssimas reformas que atualmente faz – mas teria contra ele o PS em peso.
Vários ministros e altos dirigentes socialistas que hoje aparecem ao lado dele nos comícios a dar vivas às reformas estariam certamente na rua, de rosa ao peito, a gritar contra elas.
Augusto Santos Silva, Pedro Silva Pereira, Elisa Ferreira ou José Lello desceriam a Avenida da Liberdade manifestando-se contra algumas medidas que hoje convictamente defendem.
E isto poria as reformas em risco.
Se o Governo, tendo consigo o maior partido da esquerda, já recuou na questão da Saúde (recuo que levou mesmo à queda do ministro) e já deu um passo atrás na questão das avaliações, como conseguiria levar a cabo alguma reforma caso tivesse a oposição de toda a esquerda: PS, PCP e BE?
Se Sócrates, tendo com ele o PS, já se viu forçado a ceder, como reagiria se tivesse o PS contra ele?
Esta hipótese lança-nos noutro tipo de reflexão.
Que é a seguinte: a esquerda está hoje muitíssimo mais bem colocada do que a direita para levar por diante as reformas sem as quais se alargará cada vez mais o fosso que separa Portugal da média europeia.
Para certas reformas serem possíveis, têm de ter o apoio de um grande partido de esquerda – porque isso não só é importante do ponto de vista psicológico como é decisivo do ponto de vista social: com manifestações na rua juntando o PS, o PCP e o Bloco de Esquerda criar-se-ia um clima de agitação que amedrontaria qualquer Governo e o faria recuar sem condições.
É por isso que, com Manuela Ferreira Leite ou outro líder qualquer, será quase impossível a direita regressar ao poder em 2009.
As reformas ainda a fazer exigem o apoio do Partido Socialista.
Os empresários sabem-no.
E o povo intui-o.
In: Tubarão Esquilo
terça-feira, 27 de maio de 2008
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