segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Uma nova «Terceira Via» política

Como um interessado e habitual leitor do que se passa ao nosso redor, gostei de ler um artigo do conhecido jornal ABC do país vizinho, assinado por Juan Pedro Quiñoner desde Paris, a bem conhecida e histórica capital francesa.
Li e reli o artigo que este jornalista castelhano escrevera desde Paris. Sinceramente gostei do conteúdo e interpretando-o, comecei imediatamente a fazer algumas conexões com o que porventura se poderá passar na Europa ou muito particularmente ou não neste nosso europeu Portugal.
Tentei simultaneamente equacionar uma relação dos resultados das últimas eleições europeias com o fim do Jornal Nacional das Sextas-feiras da TVI, com o afastamento da jornalista Dra. Manuela Moura Guedes e depois com as análises dos vários quadrantes políticos.

Trata-se efectivamente de uma opinião, ou melhor, de uma interpretação muito pessoal, numa perspectiva ideológica oriunda do país onde as palavras “Liberdade”, “Igualdade” e “Fraternidade” influenciariam desde o séc. XVIII este nosso Mundo que hoje em dia se afigura cada mais globalizante.
Mas ao debruçar-me efectivamente no artigo de opinião do ABC, não resisti em realçar algumas passagens que me mereceram uma particular atenção.
Segundo o jornalista, Juan Quiñonero, o presidente Nicolas Sarkozy vai fazendo crescer a sua maioria presidencial à esquerda e à direita, numa recomposição de todo o panorama político francês, associando ao seu projecto pessoal novos minúsculos grupos políticos e pequenos partidos que acabam por constituir uma autêntica cobertura ideológica sem precedentes, desde a esquerda independente até à direita da própria direita.
Foi recentemente constituído o “Comité de Coordenação da Maioria Presidencial” que será uma organização encarregada de engrenar esta nova e apaixonante política sarkoziana que começou a governar com uma “abertura à esquerda”. Lembra -se a coabitação de Sarkozy com socialistas históricos como Bernard Kouchner, um dos mais populares socialistas franceses, agora Ministro dos Negócios Estrangeiros do governo francês. Também Michel Rocard, antigo PM de François Mitterrand e um dos líderes históricos do socialismo francês, é hoje embaixador de França para os assuntos da Antártida.
Impressionante esta impensável estratégia. Mas há mais, quando o Presidente Sarkozy convenceu Philippe de Villiers, presidente do Movimento pela França (conservador nacionalista), Frédéric Nihous, representante da direita rural, Christine Boutin, uma pura e dura democrata-cristã, Hevé Morin do Novo Centro e Jean-Louis Borloo do Partido Radical a coabitarem e integrando a sua maioria presidencial, enterrando-se todas as querelas antigas.
Pela primeira vez na história da V Republica, o Presidente Sarkozy conta com uma maioria que ultrapassa e muito as fronteiras do seu próprio partido. A nova maioria presidencial é uma arma bastante estratégica com candidatos comuns em quase todas as regiões para combater a esquerda socialista nas futuras eleições regionais e alcançar a reeleição.
Voltando ao panorama nacional reparamos nos recentes acontecimentos em Portugal e em especial o inexplicável e incompreensível facto do fim do Jornal Nacional das Sextas-feiras na TVI, precisamente uma resolução considerada mais política que empresarial na pior altura que fragiliza e bem o governo socialista e o seu líder.
Ouvimos com atenção o Presidente Cavaco Silva falar da independência da Informação como uma conquista do 25 de Abril e apreciei bastante a oportuna sabedoria política do Dr. Mário Soares, ao responder numa entrevista, que pessoalmente até simpatizava com a Dra. Manuela Moura Guedes e que dar a vitória à direita seria um erro que a esquerda pagaria muito caro.
Quer o actual Presidente da República, quer o ex Presidente Dr. Mário Soares são políticos muitíssimo hábeis e com uma enorme experiência. Algumas vezes as palavras exprimem algo de importante para os analistas políticos pensarem e analisarem.
Tudo o que lemos sobre a política “sarkoziana” no referido artigo do ABC, poderá indubitavelmente proporcionar algumas ramificações em Portugal com algumas excepções que obviamente confirmariam a regra, como por exemplo uma recente intervenção do líder autárquico escalabitano.
Se o centro direita vencesse as eleições, ao contrário do que muito boa gente pensa, até poderia fazer uma autêntica abertura à considerada esquerda mais independente e moderada. Talvez haja aqui um receio dos socialistas e até de alguns esquerdistas mais informados, de que possa haver uma nova revolução francesa. A intervenção recente do Dr. Pina Moura poderá ser talvez um princípio ou uma excepção.
Uma maioria presidencial altamente mais abrangente pode estar já em formação para apoiar inequivocamente o actual PR. Um Bloco Central liderado pelo PSD ou pelo PS poderia fazer parte da experiência. Eleições antecipadas no limite máximo constitucional poderão ser uma solução mas quem as provocar seria penalizado eleitoralmente.
A chave para esta problemática política está sempre nas virtudes da democracia pluralista e semi-presidencialista. Por isso está na vontade dos portugueses e na experiência ou habilidade política do Sr. Presidente da República. Eu confio que os portugueses saberão dar a resposta adequada e certa.
Os portugueses sabem mais do que se pensa e não se deixarão enganar por défices de credibilidade na explicação atabalhoada de certos acontecimentos considerados politicamente graves.


“Manoel Nascimento Carrillo”

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