Por Washington Castilhos
Agência FAPESP – Estudo da Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgado na 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP15), em Copenhague, indica que os anos de 2000 a 2009 correspondem à década mais quente na história, derrubando a tese de que o aquecimento global estaria estacionado a partir de 1998 – ano tido como o mais quente já registrado.
Os dados também indicam que 2009 possivelmente será um dos anos de maior calor, com temperatura 0,44º C superior à média mundial. O Sul do Brasil, por exemplo, registrou um dos outonos mais quentes de sua história e um dos efeitos mais extremos das mudanças climáticas na região têm sido as constantes tempestades – Rio Grande do Sul e Santa Catarina têm sofrido com tornados e temporais. O clima quente e úmido torna a área um cenário perfeito para o deslocamento de vetores de doenças, como o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue.
Invernos mais quentes favorecem a reprodução de insetos transmissores de doenças como a dengue, a malária e a leishmaniose. No caso da primeira, há a possibilidade da expansão da doença para áreas onde ela não existe.
“No Brasil o Aedes aegypti pode se expandir para o Sul e se tornar endêmico, aumentando a transmissão e a incidência da doença no país”, alerta o médico Ulisses Confalonieri, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e colaborador do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que em 2007 ganhou o Prêmio Nobel da Paz.
“O mosquito da dengue está presente em todo o Brasil, mas no extremo Sul existe em baixa população por causa do inverno mais rigoroso na região. Mas, à medida que a área fica menos fria, a incidência pode aumentar”, disse à Agência FAPESP.
Segundo ele, o mosquito só não é endêmico em Estados como o Rio Grande do Sul por ter baixa população, embora não seja somente o clima que controle a existência do vetor. “Além do clima, há uma série de fatores, como as ações humanas de controle de vetores, a forma como a urbanização é feita e como os resíduos sólidos são descartados, e também a capacidade do ambiente em formar criadouros”, explicou.
Confalonieri lembra que a incidência da dengue está mais condicionada pela temperatura e umidade adequada. “É necessário que chova para fazer umidade”, observou. O problema é que as altas temperaturas e as frequentes chuvas formam condições propícias para o mosquito se multiplicar na região, caso não haja intervenções de controle do vetor e a população não contribua para evitar a formação de criadouros.
“Existe um medo do aparecimento de doenças exóticas, as pessoas acham que o clima vai criar doenças novas. Mas o clima pode é piorar as condições de doenças que já existem e não são controladas”, alertou o pesquisador.
Em 2007, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apresentou as primeiras projeções climáticas detalhadas para o Brasil até o ano de 2100, utilizando cenários projetados pelo IPCC, por considerá-los os mais adequados à realidade brasileira.
Segundo tais previsões, a região Sul será de 2º C a 4º C mais quente, de 5% a 10% mais chuvosa e apresentará extremos de chuva, enchentes e temperaturas mais intensos, com impactos na agricultura e na saúde da população. Já a região Sudeste ficará de 3º C a 8º C mais quente.
Para Confalonieri, as chuvas que têm assolado o Sul do país podem estar ocorrendo em função dessa mudança no quadro regional do clima, e o que o setor da saúde precisa fazer é um mapeamento das vulnerabilidades.
“A mudança do clima é uma realidade, e os efeitos estão acontecendo de forma comprovada em algumas partes do mundo. Então, temos que saber que regiões do nosso país são mais vulneráveis. Não vulneráveis apenas porque têm ou não o mosquito da dengue ou da malária, mas também por causa da renda baixa e do pouco acesso à educação e à informação, pois fatores sociais, econômicos e culturais tornam vulneráveis uma região e sua população”, destacou.
Impactos diferentes
O pesquisador da Fiocruz atualmente coordena um projeto que pretende traçar índices de vulnerabilidade, fatores socioeconômicos e ambientais de cada município brasileiro.
“Estamos mapeando o que pode ser perdido ou impactado. Os municípios que têm maior diversidade biológica são mais vulneráveis e também aqueles em que historicamente ocorreram eventos extremos de chuva, com perdas de bens materiais”, disse
Segundo Confalonieri, as grandes cidades são impactadas de forma diferente dentro de seus próprios limites geográficos. “Em cidades como Rio de Janeiro e Salvador, por exemplo, as favelas não param de crescer. O grau de vulnerabilidade social e ambiental está aumentando. Temos que estudar o fenômeno climático e o substrato social e cultural. Com a mudança do clima o que vai acontecer com a dengue e com a leptospirose?”, questionou.
No Rio de Janeiro, o projeto já começou e o estudo deverá estar concluído em seis meses. A ideia é fazer o mesmo com cada cidade da Amazônia. “Todo município da Amazônia vai criar um indicador de vulnerabilidade. Devemos lembrar que o aquecimento global é um fenômeno que tem efeitos locais e o efeito principal não é somente o aumento da temperatura”, disse.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
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