Quando Gesine Schwan nasceu, Berlim era a capital de um III Reich que sonhava triunfar durante mil anos. Estava-se em Maio de 1943, a dois anos exactos do suicídio de Hitler e da tomada da cidade pelo Exército Vermelho. Foi também em 1943, três meses antes, que nasceu Horst Kohler, sétimo filho de um casal de alemães da Bessarábia, hoje Moldávia, que expulso das suas terras pelos soviéticos se fixou na Polónia recém-conquistada. E que depois da derrota final nazi se refugiou primeiro em Leipzig e finalmente na metade ocidental da Alemanha. Em 2004, estas duas crianças da Segunda Guerra Mundial disputaram a presidência do país. Ela obteve 589 votos, ele 604, entre um colégio eleitoral composto pelos membros das duas câmaras do Parlamento alemão. Agora, Schwan volta a candidatar-se pelos sociais-democratas do SPD, desafiando o segundo mandato que Kohler dava como certo. Mas o mais curioso é que se a cientista política triunfar sobre o economista, numas eleições que serão só em 2009, a Alemanha terá uma senhora presidente, depois de ter já uma senhora chanceler, Angela Merkel.
Esqueçamos a coabitação nos anos 80 na monárquica Grã--Bretanha entre Isabel II e a primeira-ministra Margaret Thatcher e estaremos perante uma situação dupla que nunca aconteceu num grande país. É claro que houve já alguns casos do género, mas em pequenos países e sempre em condições especiais: no Sri Lanka de meados da década de 90 houve uma primeira-ministra e uma presidente, mas eram mãe e filha, duas figuras da principal dinastia política dessa ilha; e na Finlândia, também duas mulheres ocuparam os cargos em simultâneo, mas apenas alguns meses de 2003. Mulheres presidentes ou primeiras-ministras continuam excepções, mesmo nessa União Europeia que nos últimos tempos tem brilhado pelos Governos com tantas ou mais mulheres que homens, como acontece na Espanha por (boa) vontade de Zapatero.
Se Schwan for eleita, e para tal precisa dos votos da esquerda pós-comunista e dos verdes, será curiosamente uma má notícia para Merkel. Primeiro, porque o candidato da democrata-cristã CDU sairá derrotado; segundo, porque reflecte uma inesperada tensão na Grande Coligação que governa a Alemanha; terceiro, porque significa que das próximas legislativas poderá sair um executivo de esquerda. Mas será uma grande notícia para o mundo em geral: a coexistência de duas mulheres no topo do poder de um dos mais poderosos países do mundo. E sem necessidade de quotas.
(Em Portugal, tivemos durante muitos anos o caso de Maria de Lurdes Pintasilgo, primeira-ministra alguns meses em 1979 e candidata presidencial em 1986. Agora, temos também Manuela Ferreira Leite à frente do PSD, potencial partido de Governo. É bom sinal.)
‘Leonidio Paulo Ferreira’
quarta-feira, 4 de junho de 2008
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