terça-feira, 29 de janeiro de 2008

EXAGERADO O RELATORIO DE ONG

Voos da CIA
Carlos Coelho julga «exagerado» relatório de ONG e «suspeito» interesse por Portugal
O eurodeputado Carlos Coelho estimou hoje «exagerado» o relatório de uma organização de direitos humanos britânica, segundo o qual mais de 700 prisioneiros de Guantanamo passaram por Portugal, e considerou «suspeito«
Como português, não posso deixar de achar um pouco curioso que se faça um sublinhado excessivo sobre a violação potencial do espaço aéreo para o transporte de prisioneiros (em Portugal) e não se investigue pelo menos com a mesma determinação as outras alegações que envolvem países europeus e que são muito mais graves», afirmou.
Carlos Coelho, que presidiu à comissão temporária do Parlamento Europeu que durante mais de um ano averiguou o chamado caso dos «voos da CIA», lembrou designadamente que desse trabalho resultou claro que houve países europeus «que foram coniventes com a instalação de prisões secretas» (presume-se que pelo menos no caso da Polónia e Roménia), outros com a expulsão de pessoas (Suécia e Itália), e outros que destacaram agentes secretos para fazer o acompanhamento de interrogatórios ilegais (aparentemente o caso da Alemanha).
O deputado apontou ainda a título de exemplo a revelação de que o governo britânico aprovou uma interpretação jurídica, que classificou como «altamente condenável», que legitima as informações obtidas através de tortura desde que não seja o próprio país a fazê-la, para questionar por que razão as organizações não-governamentais como a britânica Reprieve, que divulgou segunda-feira o relatório sobre Portugal, não se debruçam mais sobre estes casos.
«Gostaria que as mesmas ONG (organizações não governamentais), com o mesmo vigor, estivessem interessadas em esclarecer essas alegações, muito mais graves. Não sei (por que não o fazem), mas acho suspeito o quadro deste trabalho», declarou, acrescentando não saber «se se pretende fazer de Portugal o mal-comportado, quando há casos mais graves».
«Não gosto de fazer processos de intenção e por isso não quero tentar descortinar as razões. Agora que me parece suspeito, parece-me», reforçou o eurodeputado do PSD.
Quanto ao conteúdo do relatório da Reprieve, segundo o qual «728 de 774 prisioneiros» que deram entrada na base militar norte-americana de Guantanamo em Cuba «foram transportados através de jurisdição portuguesa», em dezenas de voos entre 2002 e 2006, Coelho disse ter sérias reservas sobre estes números, lembrando que o relatório do Parlamento Europeu aponta para um máximo de 100 casos.
«Fala-se agora em 700 prisioneiros, que é praticamente toda a população que já esteve em Guantanamo. Acho um pouco exagerado presumir que a totalidade da população de Guantanamo tenha passado por Portugal», disse.
Carlos Coelho defendeu que é também necessário fazer a distinção entre «rapto ilegal e a transferência de prisioneiros legítimos feitos em teatro de guerra», considerando que a ONG britânica está a «misturar alhos com bugalhos».
Apesar das dúvidas sobre o teor do relatório e as suspeitas quanto à sua intenção, Carlos Coelho admitiu que o documento o impressionou e vem «provar que o PE tinha razão quando dizia que era necessário investigar mais».
«Horrorizou-me sobretudo pela descrição concreta de nove casos que revelam as torturas a que foram submetidos e que não podem deixar de ferir a sensibilidade de qualquer pessoa», disse.

Lusa/SOL

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