segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O pão político

A antiga Roma explicou como se governava com sucesso: com pão e com circo.
Garantia estabilidade social e vida descansada aos cônsules. No Coliseu, o povo distraía-se enquanto recebia pão e trigo. Tudo se complicava quando este equilíbrio de emoções não era possível de concretizar. Um dos inimigos de Cícero, Clodius, chegou a propor a distribuição de pão grátis aos cidadãos. A questão que se pôs foi então: como se poderá pagar esta medida? Os políticos da idade moderna aprenderam com os romanos. O pão e o circo foram hoje substituídos pelo consumo como garante da democracia. Na Europa agrega-se a isso a saúde,
a educação e a segurança social como pão político do nosso tempo. É por isso que o aumento do pão em Portugal já não faz cair regimes, como ia acontecendo em 1923. O pão foi substituído pelos telemóveis e pelos plasmas como símbolo das nossas necessidades. Mas isso não esconde a realidade: neste mundo de interdependências, há coisas que mostram que não podemos ser dependentes em tudo das importações. Portugal depende das importações de trigo para colocar todos os dias na mesa um hábito salutar: o pão. E não só: importa dois terços do peixe que consome. No azeite, só os olivais plantados nos últimos anos permitirão equilibrar as nossas necessidades. Somos deficitários em alguns dos produtos que são a base
da dieta mediterrânica que hoje tantos prezam. Um disparate. Já não há espaço para o pão político nos dias de hoje. Mas ele simboliza perfeitamente os desequilíbrios estruturais
da nossa economia. E a falta de vontade política.

"Fernando Sobral"

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