terça-feira, 17 de agosto de 2010

O beijo orçamental "fatal" do Partido Socialista ao PSD de Coelho


O primeiro dia do resto da vida política do líder do PSD, Pedro Passos Coelho, foi vivido no calçadão de Quarteira, na tradicional festa do Pontal.
Um desafio sem igual, a questão da não rejeição do Orçamento de Estado para 2011, pode muito bem considerar-se como a auto-flagelação programática de um partido que quer o poder, mas não consegue encontrar as artimanhas e os caminhos para conseguir chegar com uma boa margem de liberdade governativa, que lhe possibilite ter capacidade de mudar alguma coisa, para que nada fique igual ao que temos hoje com o governo do Partido Socialista de José Sócrates.
Na minha avaliação fria, e descomprometida em termos políticos, direi que; apesar de se encontrar a frente nas sondagens, o PSD terá que se apresentar com capacidade de liderança com as tensões do mundo político e social que enfermam Portugal nos dias de hoje.
Um partido de oposição líder, tem que estar mais a vontade para poder discutir propostas concretas com a sociedade, e ao mesmo tempo apresentar-se com jogo de cintura para conseguir enfrentar o embate político pós eleitoral. Não vejo capacidade administrativa na equipa que surge disponível para arregaçar as mangas e se jogar ao trabalho, e muito menos vejo capacidade de desafiarem e enfrentarem as feras que vão encontrar pela frente, no dia em que as promessas eleitorais começarem a não poder ser cumpridas.
A maior virtude e simultaneamente o maior defeito de Manuela Ferreira Leite, era querer falar verdade, arriscando tudo nessa sua determinação de enfrentar nos olhos o eleitorado, o que lhe veio a custar um resultado eleitoral nas legislativas que teria tudo em aberto para lhe possibilitar a chegada ao poder. O povo português gosta que lhe mintam com doçura e meiguice, para manter a imagem de que as coisas não vão custar muito, e os paliativos serão administrados em doses suaves e sem dores emocionais na vida social e econômica dos lares, só que esse cinismo acaba por vir a ter um efeito muito mais doloroso e prolongado, com a perda de poder de compra, aumento do desemprego e crescente insatisfação social.
Foi assim que Sócrates aproveitou a oportunidade para emocionar os eleitores, mais uma vez, e os conduzir a uma votação que lhe permite, mesmo sem uma maioria absoluta, continuar sentado na cadeira do poder, usufruindo de uma complacência impensável por parte tanto do Presidente da Republica, como do maior partido da oposição. A emoção é, infelizmente, considerada como um dos maiores factores de influencia na tomada de decisão eleitoral.  
Se olharmos para os dois grandes candidatos a futuro primeiro ministro de Portugal, encontramos dois incapazes tecnicamente, pois não tem perfil de gestão. De um lado um Sócrates que se vai candidatar a um terceiro mandato, e tem atrás de si uma gestão medíocre pautada por resultados mais em função de factores externos, do que de medidas capazes de mudar algum rumo nos destinos nacionais, baseados num primeiro momento de mar de rosas a que se seguiu um Portugal a menos de vinte milímetros do abismo, a que só a decisão externa conseguiu colocar travão nas loucuras da criatura, que passavam pela obras faraônicas e aumento da despesa publica sem limites ao razoável.
Do outro lado surge um Pedro Passos Coelho sem absoluta experiência de gestão, pois nem sequer algum dia foi gestor de coisa alguma, a nível autárquico ou de gestão publica, e não tem sensibilidade aprofundada para conseguir ter uma leitura exacta da sociedade, funcionando na base de palpites eleitorais que daqui e dali lhe vão fazendo chegar, mais de acordo com o balançar dos gostos de dias de sol, ou de chuva...
Não há a figura de um candidato carismático, como algumas vezes pudemos encontrar na vida política nacional, com Mario Soares, ou Cavaco Silva, pelo que as emoções ligadas á ansiedade e a maior ou menor satisfação do eleitorado podem vir a ser determinantes no momento da escolha definitiva, e muitos; apesar de insatisfeitos podem ser incentivados a sentir satisfação com as conquistas presentes e promessas futuras e com medo do risco de poder vir a perdê-las.  
Assim sendo, acho que tanto Sócrates como Coelho vão tentar usar a emoção para conquistar adesões. Eles deverão utilizar duas estratégias: despertar o sentimento de satisfação, que é positivo e leva os eleitores a apoiá-los, ou produzir ansiedade, que leva ao medo e produz um estado de rejeição com relação ao adversário. Mas para o eleitor mudar o voto é necessário que um dos candidatos tente reduzir ou acabar com a ansiedade, e ai esta o mais serio risco de poder dar um passo em falso e deitar toda a estrategia por água abaixo.
Num jogo de espelhos, em que sempre surgem duas faces (Sócrates versus Coelho) com as presidenciais como pano de fundo, e condicionante de estrategias, é mais do que previsivel que o PSD não tenha margem de manobra para poder regeitar o Orçamento de Estado para 2011, sob pena de fazer de PRD do seculo XXI.
Os tiros de polvora seca que Pedro Passos Coelho decidiu dar no calçadão do Pontal, são assim entendidos não como pré-aviso de chumbo no Orçamento de estado, mas antes a tentativa de satisfazer o eleitorado mais saturado com a gestão de Sócrates, sem no entanto deixar de satisfazer o eleitorado flutuante que pode mudar o sentido de voto, embora se sinta de certa forma, confortavel nos braços do Partido Socialista.
O mês de Outubro vai ser determinante em todos os vetores pois vai estar em cima da mesa uma proposta de Orçamento de Estado, condicionada pela necessidade de corte na despesa publica, e ao mesmo tempo uma necessária contenção no aumento de impotos por forma a não criar muitos embaraços sociais. Ao mesmo tempo existira também pressão por parte do Presidente da Republica, que se vai querer mostrar atuante e não mero corta fitas como até aqui, pois tem as eleições presidenciais a porta, e desde Bruxelas uma União Europeia e um Banco Central Europeu com unhas e dentes afiados para atacar ao mais pequeno deslise nos numeros propostos.
Caso o PSD optasse pela teoria do morticidio, regeitando o Orçamento de Estado, ainda assim; o Partido Socialista entre cair nos braços de morfeu, e se ficar adormecido, e reagir caindo nos braços da esquerda, ou do CDS, não exitaria numa destas saidas, ainda mais que uma provavel vitoria de Cavaco Silva e do PSD, deixaria a esquerda no deserto politico por alguns anos, o que ninguém de bom senso na esquerda quer arriscar. E o CDS não quer deixar de poder dar a sua opinião, e se possivel até; sentar-se a mesa governamental, pois Paulo Portas é de tal forma ambicioso, que não se importaria de (em sentido figurado) matar a propria mãe para ter direito a figurar na primeira fila do funeral...  
Engraçado é também o facto de constitucionalmente Cavaco Silva, a partir do proximo dia 6 de Setembro, deixar de ter o poder de dissolução do parlamento, num potencial chumbo do Orçamento de Estado, o que deixaria desde logo o País a viver de duodecimos, com uma rara oportunidade para o CDS se chegar a frente, viabilizando pontualmente a gestão do Partido Socialista, e colocando ao mesmo tempo um certo travão no crescimento do PSD, que a acontecer se verifica a custa de algum eleitorado do proprio CDS, o que obviamente não pode agradar as gentes do Largo do Caldas.
Por tudo isto, o primeiro dia do resto da vida politica do lider do PSD foi dado no calçadão de Quarteira, e as ameaças veladas que ali lançou, podem muito bem vir a ser o sustentaculo da teia que o Partido Socialista esta a montar para emaranhar o maior partido da oposição num beijo orçamental que pode vir a ser fatal para Pedro Passos Coelho, deixando o caminho aberto ao senhor líder do PSD que se lhe seguir...
“João Massapina”

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