Portugal está de novo em eleições. São mais dois meses de propaganda política e de contorcionismo. Mas não só: de agressão. Chegaremos ao Verão a lamber as feridas.
O pedido de ajuda ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira, uma construção da União Europeia com o FMI (que foi incluído por pressão da Alemanha aquando do resgate improvisado à Grécia), passou a estar no centro do debate. Esperemos que esse estigma passe rapidamente. De outra forma, arriscamo-nos a fazer das eleições um plebiscito sobre quem foi o culpado desta crise política em vez de decidir quem nos vai gerir na crise de financiamento - e tirar deste estado medieval de crise económica permanente.
O calendário das nossas dificuldades tem muito meses pela frente. Não é apenas a aflição deste momento. Como mostra a manchete de hoje do Negócios, a catadupa recente de empréstimos de curto prazo, feita a quaisquer condições, está a substituir empréstimos de longo prazo, o que cria um pressão financeira constante: o primeiro semestre de 2012 será seguramente infernal para o Instituto de Gestão de Tesouraria e do Crédito Público.
O próximo Governo, seja ele qual for, terá trabalhos hercúleos que deveriam estar no centro desta campanha eleitoral. Não basta não vender sonhos aos portugueses, como pediu, e pediu bem, o Presidente da República. É preciso explicar como se resolvem os pesadelos: a falta de financiamento deste momento; a austeridade que isso vai implicar, e que há-de resultar noutro PEC e provavelmente num Orçamento do Estado rectificativo; que política económica será necessária e que política social será possível; que entendimentos políticos internos são necessários, que sujeição política externa isso implicará.
Se tudo correr bem, o próximo Governo e as suas muletas externas debulharão o terreno para, no final do mandato, o País estar preparado para voltar a andar pelo próprio pé. Serão vários anos até lá (três a cinco, prevê Vítor Bento), durante os quais estaremos sobretudo a pagar dívidas e a baixar nível de vida. E deveria ser nisto que a próxima campanha eleitoral (que não oficialmente já começou) deveria estar centrada. Não sobre a interpretação do passado, mas sobre as possibilidades de futuro.
Este fim-de-semana serviu para confirmar que a campanha não vai ser nada disto, vai ser uma guerra sem quartel. O PS, desabrido, faz de oposição à oposição usando a ideologia para fugir à derrota; o PSD, triunfalista, aponta os erros do Governo e tenta provar que tem estofo para merecer a vitória. E o Presidente da República, mesmo que não o queira, vai estar no centro de debates. E de ataques.
As últimas eleições legislativas foram suficientemente recentes para nos lembrarmos do logro. Venderam-nos a imagem de um País em versão plastificada, deram-se aumentos salariais e distribuíram-se subsídios sem pudor. Hoje isso não é tolerável. Mas tem de sobrar mais do que o ataque e a destruição dos adversários políticos.
Os partidos são máquinas feitas para ganhar eleições, a governação vem depois. E os políticos concordam com Álvaro de Campos, quando ele escreve na "Tabacaria" que "o mundo é para quem nasce para o conquistar!/ E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão." Destas eleições, o que Portugal precisa de ganhar é razão.
"Pedro Santos Guerreiro"
O calendário das nossas dificuldades tem muito meses pela frente. Não é apenas a aflição deste momento. Como mostra a manchete de hoje do Negócios, a catadupa recente de empréstimos de curto prazo, feita a quaisquer condições, está a substituir empréstimos de longo prazo, o que cria um pressão financeira constante: o primeiro semestre de 2012 será seguramente infernal para o Instituto de Gestão de Tesouraria e do Crédito Público.
O próximo Governo, seja ele qual for, terá trabalhos hercúleos que deveriam estar no centro desta campanha eleitoral. Não basta não vender sonhos aos portugueses, como pediu, e pediu bem, o Presidente da República. É preciso explicar como se resolvem os pesadelos: a falta de financiamento deste momento; a austeridade que isso vai implicar, e que há-de resultar noutro PEC e provavelmente num Orçamento do Estado rectificativo; que política económica será necessária e que política social será possível; que entendimentos políticos internos são necessários, que sujeição política externa isso implicará.
Se tudo correr bem, o próximo Governo e as suas muletas externas debulharão o terreno para, no final do mandato, o País estar preparado para voltar a andar pelo próprio pé. Serão vários anos até lá (três a cinco, prevê Vítor Bento), durante os quais estaremos sobretudo a pagar dívidas e a baixar nível de vida. E deveria ser nisto que a próxima campanha eleitoral (que não oficialmente já começou) deveria estar centrada. Não sobre a interpretação do passado, mas sobre as possibilidades de futuro.
Este fim-de-semana serviu para confirmar que a campanha não vai ser nada disto, vai ser uma guerra sem quartel. O PS, desabrido, faz de oposição à oposição usando a ideologia para fugir à derrota; o PSD, triunfalista, aponta os erros do Governo e tenta provar que tem estofo para merecer a vitória. E o Presidente da República, mesmo que não o queira, vai estar no centro de debates. E de ataques.
As últimas eleições legislativas foram suficientemente recentes para nos lembrarmos do logro. Venderam-nos a imagem de um País em versão plastificada, deram-se aumentos salariais e distribuíram-se subsídios sem pudor. Hoje isso não é tolerável. Mas tem de sobrar mais do que o ataque e a destruição dos adversários políticos.
Os partidos são máquinas feitas para ganhar eleições, a governação vem depois. E os políticos concordam com Álvaro de Campos, quando ele escreve na "Tabacaria" que "o mundo é para quem nasce para o conquistar!/ E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão." Destas eleições, o que Portugal precisa de ganhar é razão.
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