sábado, 31 de julho de 2010

Unanimidade nacional

Sendo eu um curioso e, longe de ser um especialista, com o risco de perguntar bobagens, mas porque Chico Buarque é considerado “unanimidade nacional”? Ora, só depois de ter sido presenteado por um amigo com o livro “Histórias de canções Chico Buarque”, de Wagner Homem, foi que tive a real dimensão desse compositor de inegável talento e de biografia artística incomum.
Através da batida inconfundível de João Gilberto, com seus acordes econômicos, um banquinho e um violão, sem a necessidade de um vozeirão impostado, o arrebataram para a música com versos musicais glamoroso, estiloso e fantástico!
Difícil não jogar confete no cara que compôs obras primas como Construção (1971), Cálice (1973), Valsinha (1970), Bastidores (1979), Vai passar (1984), A banda (1966). Em relação a essa última, o mestre Nelson Rodrigues, conhecido pela escrita livre e pensamento anárquico, diz: “... e a minha vontade foi sair de casa, me sentar no meio-fio e começar a chorar. Com ‘A banda’, começa uma nova época da MPB”.
O livro ganha notoriedade entre leitores seletos, que julgam o seu protagonista como extraordinário, afora os etcéteras que eu poderia alinhar aqui se dispusesse de espaço nessa coluna. É injusto compará-lo com quem levou uma vida construindo um nome. Não haverá outro Fellini, outro Chacrinha, nem um novo Lupicínio. Toda obra sofre influência da época em que se vive, e esta não se repete jamais.
Em tempos da ditadura, a implicante e implacável censura, não dava moleza com as composições de Chico Buarque. Para fugir dessa perseguição, no início da década de 70, começou a compor com os pseudônimos de Julinho da Adelaide e Leonel Paiva; autores contra os quais não pesava nenhuma suspeita. Ele tinha razão. Sempre era aprovada sem restrição.
No caso da letra Apesar de você (1970) “Hoje você é que manda/Falou, tá falado/ Não tem discussão...” - Tudo ia bem, até que uma notinha publicada num jornal insinuou que o “você” era na verdade o presidente Medice. Claro, já preparado, disse cinicamente que se tratava de uma mulher muito mandona.
O samba para Vinícius (1977) foi um pedido feito por Toquinho em homenagem a outro importante parceiro. Concluído o texto (verso) ficou a própria fotografia do poetinha, ou seja, sintético, direto, original, próprio da inteligência excepcional que só o Chico tem.
É bacana ligar o rádio e ouvir uma boa música, principalmente aquelas já bem conhecidas da MPB. Melhor, então, quando se ouve “pérolas de nostalgia” tipo o Fado tropical (1972-73), aliás, minha preferida, “Oh, musa do meu fado/ Oh, minha mãe gentil/ Te deixo consternado/ No primeiro abril...”.
Finalmente compreendi: porque o grande Chico tem a tão falada “unanimidade”.

LINCOLN CARTAXO DE LIRA

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