Faz hoje um ano que Manuel Pinho perdeu o juízo e depois perdeu o lugar. Aquele par de cornos pôs Portugal nas primeiras páginas do mundo inteiro, pela bizarria. Assim foi também ontem. Por outra bizarria, bem menos inócua: por ter usado a "golden share". Outra história de "encornados", aliás. Esta foi a semana em que a aliança entre o Governo e o BES se partiu.
José Sócrates e Ricardo Salgado são comummente considerados os homens mais poderosos de Portugal. A variação costuma ser apenas na ordem em que eles são colocados. Mas, até aqui, ambos viveram numa boa "parceria", na Portugal Telecom ou noutras empresas. Mas mais: Ricardo Salgado, que sempre defendeu a estabilidade política, e que teve razão quando avisou antes das eleições para os perigos do fim de uma maioria absoluta, nunca tinha defendido projectos políticos concretos. Fê-lo nomeadamente para as grandes obras, aeroporto e TGV, na altura em que elas eram mais polémicas. Apoiou os projectos de Sócrates.
A votação na assembleia-geral da PT mostra que BES e Governo deixaram de estar de braço dado. Ricardo Salgado desvalorizou-o, dizendo que o "núcleo duro" se mantém porque existe para defender a PT, não necessariamente uma participação noutra empresa. Mas Sócrates não desvalorizou: escreveu ontem no "Público", num texto do tamanho de um sms, que o Estado não permite que os seus interesses sejam desconsiderados e ignorados. E que usa os poderes que tem. "Se alguém não sabia disso, agora ficou a saber."
Esta mensagem tem um destinatário claro espanhol e terá outros destinatários portugueses. Porque, usando a expressão que Henrique Granadeiro um dia usou pensando estar "off the record", aqui chegámos porque houve várias pessoas "encornadas". Enganadas. Traídas.
A Telefónica foi a primeira a trair Sócrates e a PT, quando avançou como um rolo compressor por cima dos seus parceiros. Henrique Granadeiro, Zeinal Bava e toda a administração da PT terão sido surpre-endidos pelo uso da "golden share", de outro modo não teriam assumido perante os investidores o que assumiram. Vão entrar nos próximos "road shows" cobertos de vergonha... Mas é preciso perguntar por que razão usou o Estado o veto "in extremis", sem pré-aviso, arriscando.
Por desespero? Porque não sabia? Se não queria vender, ou dormiu durante dois meses e não preparou acordos com Espanha que evitassem a vergonha de recorrer à "golden share", ou esteve convencido de que o "núcleo duro" jamais venderia, percebendo na véspera, terça-feira à noite, que a subida de preço era o triunfal golpe da Telefónica. Os espanhóis subiram o preço às 23 horas, a apenas onze horas do início da assembleia-geral. Não o teriam feito sem terem o negócio fechado. Com a Ongoing. Com o BES.
Já aqui se escreveu o que penso da "golden share": estamos a passar por trogloditas no mundo inteiro e vamos pagar por isso. Mas Sócrates mostra que ainda é o "animal feroz" que um dia assim se autodefiniu. E que responde a traições com bombas.
Bava e Granadeiro tinham razão: isto vai acabar como devia ter começado, a negociar a bem. Mesmo deixando um rasto de destruição atrás. A destruição de uma bomba atómica.
“Pedro Santos Guerreiro”
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário