sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Rastilhos

A Mensagem de Ano Novo do Presidente da República condensa os lugares-comuns da retórica da impotência, característica dos discursos da direita em geral, e do PSD em especial. Que sentido tem repetir maniacamente que há desemprego e défice demasiado altos? Acaso só a direita é que está preocupada? Será que o Governo ignora os números, esse mesmo Governo que reduziu o défice quando pôde e apoiou as vítimas da crise internacional quando foi necessário? Este alarmismo estéril e tóxico, nunca se comprometendo com alguma solução, manifesta a paupérrima qualidade intelectual e cívica que constitui a actual direita.
Mas o melhor do discurso de Ano Novo vem do reino da metáfora: situação explosiva. Coincidindo com o descalabro no BCP e BPN, finais de 2007, os círculos cavaquistas passaram a falar da ameaça de explosões sociais. A SEDES, no princípio de 2008, foi para a janela gritar que havia na sociedade um difuso mal-estar – isto é, que o relógio já estava em contagem decrescente para o grande peido. E em Junho desse ano sentiu-se o cheiro da pólvora, com o bloqueio das transportadoras, animado por um gabiru ligado ao PSD. Este quadro de ameaças vagas e crescente retórica catastrofista, misturado com apelos à intervenção presidencial, recolheu imediata adesão dos sectores da sociedade mais fragilizados cultural e cognitivamente, tendo sido transformado em estratégia política com os tópicos da política de verdade, asfixia democrática e medo.
Acontece que em Portugal as explosões sociais são um negócio do PCP. Eles é que têm as carrinhas, camionetas e camiões autárquicos, assim como uma base de dados nacional com os nomes dos revolucionários sempre prontos a largar o bulimento, ou a bisca deslambida, e vir até à Capital abrir o apetite com umas caminhadas avenida a baixo. Depois, chegam os manfios do BE, colocam-se no passeio sorridentes e fazem os directos para a TV. Uma explosão social bem organizada funciona assim – escusado será lembrar que as explosões socias desorganizadas não funcionam, isto é de lenina caprina.
Moral da história: os que à direita falam em explosões sociais mal conseguem conter o seu desejo que aconteçam, deixando-se apanhar a acender o rastilho. Ver o Presidente da República alinhado com esses irresponsáveis, só confirma que os mínimos para estar à altura da função há muito explodiram em Belém.


In: Aspirina B

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