segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Fábula dos capitalistas sem capital

Américo Amorim diz que o futuro da estrutura accionista da Galp "é tabu". Outros poderão dizer o mesmo da Cimpor. Do BCP. Da Brisa. Até da EDP, da PT, da Zon, da Impresa. Personagens do conto dos capitalistas sem capital, como lhes chamou Fernando Ulrich.

Os analistas chamam-lhe "ângulo especulativo" e colam o rótulo à Cimpor, ao BCP, à Galp e à Brisa. Empresas que, pela vulnerabilidade accionista, podem ser alvos de ofertas de aquisição. Na Cimpor, o vaticínio já se concretizou.

Em todas encontramos minorias portuguesas em equilíbrios instáveis com rivais estrangeiros. Muitos entraram a convite. Não saem nem ao pontapé. E fazem bem.

O truque da década de Amorim foi convencer Portugal de que é dono da Galp. Não é: tem, indirectamente, menos de 14% da empresa, menos que os angolanos da Sonangol, muito menos do que têm os italianos da Eni. O equilíbrio é garantido por um acordo parassocial que atribui super-poderes à Caixa. Mas essa poção mágica é de duração limitada: já este ano termina o período de indisponibilidade de acções. Italianos podem vender se o preço for bom, angolanos podem comprar, brasileiros podem espreitar. E Amorim? Tabu.

Quando se confessou saturado dos capitalistas sem capital, Ulrich estaria a referir-se a accionistas altamente financiados por bancos muito amigos, que entraram em empresas com a delicadeza com que um cowboy pontapeia as portas gémeas de um "saloon". À saída, só tinham dívidas. Berardo, Teixeira Duarte, Manuel Fino, Joaquim Oliveira e outros que povoam as páginas deste jornal.

Muitas empresas portuguesas vivem na circunstância da falta de capital de quem lá manda. Uns, como a Cimpor ou o BCP, por estarem nas mãos dos bancos. Outros porque os "donos" têm cascatas de participações que partem de pequenos caudais. É o caso de Amorim na Galp. Ou da minoritária família Mello na Brisa. Até da família Espírito Santo no BES, onde terá menos de 20%.

Em cada uma destas empresas há accionistas estrangeiros em quem os portugueses não confiam nem para passar numa passadeira. A Lafarge na Cimpor, a Eni na Galp (e, um dia, talvez a própria Sonangol), a Abertis na Brisa, a Telefónica na PT, a Iberdrola na EDP, o Credit Agricole no BES.

Em alguns casos, as entradas foram pouco amigáveis e são um travão do concorrente-accionista à expansão da empresa portuguesa. Noutros, essas empresas foram convidadas. É o caso da Lafarge, que entrou na Cimpor a pedido da Teixeira Duarte, que hoje a apelida de "inimigo número 1". Ou da Eni, que entrou pela mão do Governo e hoje é boneco de "voodoo" na mesa de outros accionistas.

O assalto à Cimpor, o tabu da Galp, a espinha nas gargantas da EDP e da PT, a ameaça latente na Brisa ou a iminência do nada no BCP são provas suficientes: quem não tem capital e escolhe accionistas pela carteira fica refém das suas próprias opções. Querer correr com eles depois por causa do sotaque e chamar os bombeiros da Caixa não é mais que instinto primário de protecção.

Os esquemas de controlo das maiores empresas portuguesas são proteccionistas, complexos e inteligentes. Pudera. No prodigioso "O Homem que era Quinta-Feira", Chesterton conta como um espião que se faz passar por homem rico é desmascarado: defendia o capitalismo com tanta inteligência que toda a gente percebeu que ele tinha de ser pobre.

“Pedro Santos Guerreiro”

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Mapas a partir do chão

Por Fabio Reynol

Agência FAPESP – Aviões e satélites deixaram mais fácil um antigo trabalho da humanidade, a cartografia. Ao mesmo tempo, essas tecnologias também encareceram a atividade. Por conta disso, cientistas norte-americanos desenvolveram na década de 1980 um meio de traçar mapas a partir de veículos terrestres.
A inovação levou o professor João Fernando Custódio da Silva, do Departamento de Cartografia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Presidente Prudente, a um pós-doutorado na Universidade do Estado de Ohio, nos Estados Unidos, na década de 1990.
De volta ao Brasil, Custódio ajudou a criar, em 1997, o Laboratório de Mapeamento Móvel (Lammov), a fim de desenvolver uma tecnologia nacional do tipo. O sistema de mapeamento móvel consiste, basicamente, em equipamentos de localização e de captação de imagens acoplados a um automóvel.
Duas câmeras fotográficas digitais são utilizadas como filmadoras e afixadas em cima do veículo, apontadas para a frente. Entre elas, um GPS registra as coordenadas geográficas, e um terceiro equipamento, o sistema de navegação inercial (INS), estabelece o referencial da posição das câmeras em relação a um ponto fixo.
São necessárias duas câmeras para que possibilitar os cálculos de triangulação, que posicionam e dimensionam os objetos filmados. No veículo ainda vão dispositivos de conexão dos aparelhos e um computador portátil para rodar os softwares que coordenam a operação.
“Parte do nosso trabalho foi desenvolver as interfaces entre esses aparelhos”, contou Custódio, que também criou com a sua equipe os softwares de interpretação e de processamento dos dados. O grupo da Unesp mapeou um bairro de Presidente Prudente com a tecnologia.
Atualmente, o desenvolvimento do trabalho está sendo feito dentro da empresa Cartovias, criada por um ex-orientando de Custódio, o engenheiro cartógrafo Rodrigo Bezerra de Araújo Gallis. O projeto tem apoio da FAPESP por meio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) e colaboração de Custódio e de sua equipe na Unesp.
A Cartovias nasceu do envolvimento de Gallis com o mapeamento móvel. O engenheiro começou a pesquisar essa tecnologia em 1999, durante sua iniciação científica, na qual contou com Bolsa da FAPESP. Os estudos continuaram na pós-graduação e, após o doutorado, ele decidiu aprimorar o projeto. A Cartovias é uma das empresas residentes da Incubadora Tecnológica de Presidente Prudente (Intepp), mantida pela Unesp com outras instituições parceiras.
O projeto agora espera a chegada de duas câmeras fotográficas digitais profissionais, que estão em processo de importação. Elas serão utilizadas como filmadoras acopladas no teto de um automóvel. “Usaremos resolução de cerca de 12 megapixels. Acima disso, as imagens saem com trepidação”, explicou Gallis.
A aquisição de equipamentos, de acordo com o professor Custódio, é mais fácil em outros países devido à participação mais ativa das empresas de eletrônicos. “Nos Estados Unidos, por exemplo, a fabricante da máquina fotográfica leva o seu novo produto para a universidade testar. Aqui isso não ocorre”, lamenta.
Instaladas no carro, as câmeras do projeto Sistema de Mapeamento Móvel (Simmov) coletarão dados cartográficos que depois serão transformados em mapas no laboratório. “A diferença básica entre o levantamento aéreo e o terrestre é a perspectiva das imagens”, disse Gallis, destacando que ambos permitem precisão de centímetros.
Custódio explica que os processos são complementares. “Em imagens aéreas não dá para saber o que está embaixo da copa de uma árvore, assim como não dá para ver o interior de um quarteirão somente com o mapeamento móvel”, disse.

Detector de buracos
O professor da Unesp trabalha agora em mais um equipamento para integrar o sistema. Trata-se de um projetor de laser cujo desenvolvimento também conta com apoio da FAPESP, por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular.
No projetor, dois fachos perpendiculares são apontados para o solo e executam a leitura das imperfeições da superfície. O intuito é fazer um levantamento detalhado de buracos, trincas e demais irregularidades com grande precisão a fim de auxiliar o trabalho de serviços municipais ou o de administradores de estradas.
O novo equipamento ainda será montado e testado no veículo protótipo da Cartovias. No futuro, o pesquisador pretende substituir os dois fachos fixos por lasers de varredura, que ainda não foram empregados devido ao alto preço.
Apesar de existir outros equipamentos de mapeamento móvel no Brasil, poucos utilizam o sistema de navegação inercial, encontrado somente em mapeamento aéreo. A presença do INS no solo garante resultados mais rápidos, segundo os pesquisadores, uma vez que ele traz dados mais completos, economizando várias etapas do processamento de dados.
“O mapeamento móvel permite uma captação de dados bem rápida (5% do tempo de todo o processo). Além disso, funciona em qualquer via que permita o acesso de automóveis abrindo múltiplas perspectivas de aplicação”, disse Gallis.
Por ser mais econômico que os mapeamentos aéreos e por satélite, os móveis poderão ser largamente empregados por prefeituras, empresas de telefonia, eletricidade, água e esgoto e qualquer instituição que atue com geoprocessamento.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Um País cada vez mais POBRE mas com gente RICA……

Mais um pobrezinho de um reformado
SUGIRO A QUE SE SENTEM BEM, ANTES DE LEREM ISTO!!!!

VIV'Ó REGABOFE

Mau grado o voto de pobreza a que a Ordem Franciscana obriga, Frei Vítor Melícias, recebe uma modesta reforma de € 7450!!!!! Será que a entrega direitinha à Ordem Franciscana e a distribui pelos mais necessitados???? De certeza que sim...eheheheheh

Padre Melícias com pensão de 7450 euros

O padre Vítor Melícias, ex-alto comissário para Timor-Leste e ex-presidente do Montepio Geral, declarou ao Tribunal Constitucional, como membro do Conselho Económico e Social (CES), um rendimento anual de pensões de, e só,
104 301 euros.

Em 14 meses, o sacerdote, que prestou um voto de obediência à Ordem dos Franciscanos, tem uma pensão mensal de 7450 euros. O valor desta aposentação resulta, segundo disse ao CM Vítor Melícias, da "remuneração acima da média" auferida em vários cargos.

Vítor Melícias entregou a declaração de rendimentos no Tribunal Constitucional em 2 de Fevereiro de 2009, mais de um ano após a instituição presidida por Rui Moura Ramos ter clarificado a interpretação da lei que controla a riqueza dos titulares de cargos políticos.

A 15 de Janeiro de 2008, o Tribunal Constitucional deixou claro que, ao abrigo da lei 25/95, 'de entre os membros que compõem o CES, se encontram vinculados ao referido dever [de entrega da declaração de rendimentos] aqueles que integrem o Conselho Coordenador e a Comissão Permanente de Concertação Social, bem como o secretário-geral'.

Com 71 anos, Vítor Melícias declarou, em 2007, ao Tribunal Constitucional um rendimento total de 111 491 euros, dos quais 104 301 euros de pensões e 7190 euros de trabalho dependente.
'Eu tenho uma pensão aceitável mas não sou rico', diz o sacerdote.
Melícias frisa que exerceu funções com 'remuneração acima da média, que corresponde a uma responsabilidade acima de director-geral', no Montepio Geral, na Misericórdia de Lisboa, no Serviço Nacional de Bombeiros e noutros organismos.
E eu a julgar que esta gente praticava o “espírito de missão” e o “trabalho de voluntariado”???!!! Chiça penico!

Pois é, esta gente da Igreja nunca me enganou!!!
Já têm mais de 2000 anos de experiência….
Razão tinha o S. Pedro quando um dia espreitando cá para baixo, viu um avião de luxo, todo branco com o Papa lá dentro e exclamou: vejam só como o negócio evoluiu, começou com um burro…

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Sopros da evolução

Agência FAPESP – Há mais em comum entre jacarés e aves do que a “limpeza” dos dentes feitas por esses últimos para extrair os restos de alimentos na boca dos répteis.
Pesquisadores da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, descobriram que os répteis da família Alligatoridae, da qual fazem parte os aligatores norte-americanos e os jacarés sul-americanos, respiram de forma semelhante às aves. O estudo foi publicado na edição da revista Science
Os pesquisadores observaram que o ar nos pulmões de aligatores segue em um único sentido, e não em fluxos para dentro e para fora, em dois sentidos. Esse tipo de estrutura pulmonar tem sido geralmente considerado exclusivo de aves, que precisam de grandes quantidades de oxigênio enquanto voam.
O novo estudo sugere que esse método de respiração deve ter surgido na história evolucionária dos vertebrados em ancestrais comuns aos aligatores e aves. Isso teria ocorrido há mais de 246 milhões de anos com os primeiros répteis, ou arcossauros, grupo presente no período Triássico.
Collen Farmer e Kent Sanders analisaram os padrões de circulação de ar e água nos pulmões de aligatores norte-americanos, tanto em animais vivos como em pulmões extraídos e ventilados artificialmente. A dupla observou que o fluxo de ar no réptil é unidirecional e extremamente parecido com o encontrado nas aves.
Nos pulmões de humanos e de outros mamíferos, na inalação o ar se move por numerosas filas de passagens cada vez menores, os brônquios, até chegar a pequenas câmaras, os alvéolos, onde o oxigênio entra na circulação sanguínea e o dióxido de carbono se move do sangue para os pulmões, no sentido oposto.
Os pesquisadores não sabem como o aligator consegue respirar dessa forma sem os sacos aéreos comuns às aves. Segundo eles, o padrão teria surgido com os arcossauros e teria permanecido com seus descendentes, entre os quais os dinossauros, os crocodilianos e as aves.
Os autores do estudo sugerem que esse tipo de estrutura pulmonar pode ter dado a alguns dos primeiros grupos de arcossauros uma vantagem ao torná-los mais capazes de realizar movimentos vigorosos em período no qual a atmosfera tinha muito menos oxigênio do que atualmente.
O artigo Unidirectional airflow in the lungs of alligators (10.1126/science.1180219), de Collen Farmer e Kent Sanders e outros, pode ser lido na Science em www.sciencemag.org.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

E OS OUTROS...

A medida que o ocidente vai ficando mais ateísta, a crença em vida noutros planetas torna-se cada vez mais plausível (apesar de não haver evidências para tal). Quem subscreve a mitologia darwinista está mais susceptível a acreditar que, tal como a vida se originou no planeta Terra, ela deve-se ter originado noutros sítios do universo.

A chegada do Homem à Lua, em 1969, terá sido vista por uma testemunha inesperada: uma nave extraterrestre. Esta é a versão de Edwin ‘Buzz’ Aldrin, um dos astronautas que acompanhou Neil Armstrong durante a missão ‘Apollo 11’, que será publicada na próxima semana num livro da autoria do boliviano Eduardo Ascarrunz.
“É o segredo mais bem guardado da NASA”, salientou Ascarrunz, que obteve a revelação de Aldrin durante uma entrevista feita há 10 anos, embora só agora tenha decidido publicá-la, com aprovação do astronauta.
‘Buzz’ Aldrin foi o segundo homem a pisar solo lunar a 20 de Julho de 1969, poucos minutos depois de Armstrong, na missão em que também participou Michael Collins.
De acordo com a obra, os astronautas informaram o centro de controlo da NASA, em Houston (EUA), sobre uma suposta nave ‘semi-esférica’ que os escoltava desde a sua chegada à Lua.
“Aqui estamos os três... e eles estão aqui, perto da nossa nave... Encontrámos uns visitantes”, terá referido Armstrong para a base norte-americana.
Pedidos mais esclarecimentos a partir da Terra, Aldrin apoiou as palavras do seu colega: “Lá fora está outra nave espacial. Eles estão do outro lado da cratera”.
O astronauta informou também que não foi possível filmar o acontecimento porque nesse momento as câmaras estavam a fotografar outros objectos.
A revelação de Aldrin constata que poderemos co-existir com outros seres no Universo.
De acordo com Ascarrunz, a NASA terá escondido os acontecimentos para evitar que estes se sobrepusessem ao objectivo inicial da missão ‘Apollo 11’, chegar à Lua primeiro que a União Soviética.
“Mats”

sábado, 16 de janeiro de 2010

Gays e conservadores

Este artigo é interessante porque revela que a questão do "casamento" homossexual é algo polémico mesmo dentro da comunidade homossexual. Isto é importante porque muitos secularistas querem catalogar os que se opõe ao "casamento" homossexual de "homofóbicos".
Se isso é assim, será que os homossexuais que se opõem ao "casamento" homossexual são também "homofóbicos"?
Nos anos noventa, nasceram os movimentos gays conservadores, que recusam a ideia de um casamento gay.
No princípio, nos anos setenta e oitenta, os movimentos gays tinham como prioridade o "direito à diferença" e a afirmação orgulhosa da sua identidade própria. O "sair do armário", a forma de vestir, as discotecas e as festas, foram as manifestações sociais de um grupo que queria afirmar a sua força política nas sociedades americana e europeia. E, é preciso reconhecê-lo, conseguiu atingir esse objectivo. A partir dessa época, a preferência sexual passou a ser característica distintiva de um ser humano, e geradora de direitos. Deixaram de existir apenas dois sexos, o masculino e o feminino, para passar a existir quatro categorias, homossexuais e heterossexuais para cada sexo. A ascensão da identidade sexual a característica essencial, equiparada à raça e à religião, foi a primeira grande vitória do movimento gay.
Contudo, o princípio orientador dessa guerra era a "diferença", e vencida a contenda, o movimento gay descobriu que demasiada diferença empurrava as suas comunidades para um gueto desagradável. Quando se divide o mundo em heteros e homos, a consequência é o aumento da distância entre as pessoas, uma espécie de apartheid social subtil, prejudicial para todos. E, com o passar dos anos, as paradas gays haviam-se transformado em extravagâncias, meio cómicas, meio patéticas, que prejudicavam a imagem do movimento gay.
Atentos, os líderes do movimento passaram à fase seguinte, a da luta pela "igualdade", cuja bandeira maior é o casamento civil. Numa importante inversão de valores, depois de lutarem pela diferença desejaram o regresso à igualdade, para fechar o ciclo e vencer a tal distância que se instalara entre as pessoas. Porém, e ao contrário do que se passou na "identidade", na polémica questão do casamento o movimento gay fracturou-se.
Nos anos noventa, na América e em Inglaterra, nasceram os movimentos gays conservadores, que recusam a ideia de um casamento gay. Ou seja, a "fractura" entre a esquerda e a direita rasga também o movimento, e não apenas o resto da sociedade.
Em Portugal, a luta gay tem sido sempre uma bandeira da esquerda radical, que tem no Bloco o seu motor. É evidente que o PS adoptou a causa por mera táctica oportuna, e o PCP já não tem paciência para a contrariar, como fez durante décadas. O que é pena é que os gays conservadores portugueses não apareçam, opondo-se ao casamento gay como fizeram os seus compadres lá fora. Nesta, como noutras questões, estamos ainda na idade da pedra.
Domingos Amaral, Director da GQ

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Maquiagem de Cleópatra pode ter sido medicinal

A maquiagem pesada usada por egípcios na Antiguidade, como a famosa rainha Cleópatra, pode ter tido uma finalidade medicinal, e não apenas estética, de acordo com um estudo do Centro Nacional para Pesquisa Científica da França (CNRS).

Os pesquisadores analisaram amostras de cosméticos encontrados em tumbas egípcias e seguiram receitas antigas contidas em relatos de autores greco-romanos e descobriram que eram usados sais que levavam à produção de óxido nítrico - uma substância que estimula o sistema imunológico para combater infecções oculares.

Os sais incluíam chumbo, que faz mal à saúde, mas os cientistas do CNRS e do Museu do Louvre descobriram que em doses muito baixas ele pode ter um efeito benéfico.

O chefe da equipe de pesquisa, Philippe Walter, disse:
– Nós sabíamos que os antigos gregos e romanos também tinham percebido que a maquiagem tinha propriedades medicinais, mas queríamos determinar exatamente como funcionava.

Os pesquisadores usaram um minúsculo eletrodo, mais fino do que um fio de cabelo, para examinar os efeitos do sal de cloreto de chumbo sintetizado pelos egípcios - laurionita - em uma única célula.

Em artigo na revista Analytical Chemistry, os cientistas escreveram:
– Ao estimular defesas imunológicas não-específicas, pode-se argumentar que estes compostos de chumbo era manufaturados deliberadamente e usados em fórmulas egípcias antigas para prevenir e tratar de males dos olhos, promovendo a ação das células imunológicas.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Espectrometria contra o crime

Por Fabio Reynol

Agência FAPESP – Descobrir em questão de segundos se uma cédula é falsa, se uma assinatura foi adulterada ou se o azeite de oliva é realmente puro são apenas algumas das aplicações da Easy Ambient Sonicspray Ionization Mass Spectometry (EASI-MS), técnica desenvolvida pela equipe do professor Marcos Nogueira Eberlin, no Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A EASI-MS foi desenvolvida no âmbito do Projeto Temático “Desenvolvimento e estudo de materiais funcionais e estruturais dentro da perspectiva da complexidade”, apoiado pela FAPESP, e teve a participação do doutorando Gustavo Braga Sanvido e do estudante de pós-doutorado Renato Haddad, ambos bolsistas da Fundação.
Diferentemente das técnicas convencionais de espectrometria de massa, a EASI-MS não exige a preparação da amostra a ser analisada, o que agiliza muito o processo. Para descobrir se uma nota é verdadeira ou não basta inseri-la no espectrômetro de massa. Um spray ionizante é lançado sobre ela e libera íons (partículas eletricamente carregadas) que funcionam como uma “impressão digital”.
“A nota autêntica possui um perfil químico muito característico e o processo detecta até mesmo falsificações feitas a partir de cédulas verdadeiras que são lavadas e posteriormente pintadas com valores maiores”, disse Eberlin.
Isso ocorre porque os chamados íons diagnósticos da nota verdadeira estão no papel e não na tinta. “Para burlar esse método de detecção só mesmo imprimindo dinheiro dentro da Casa da Moeda”, disse.
A análise foi aplicada com sucesso em notas de real, euro e dólar. Para conseguir exemplares de dinheiro falsificado, a equipe contou com apoio da Polícia Federal e do Instituto de Criminalística da Polícia Civil do Estado de São Paulo.
Além da falsificação de dinheiro, os peritos policiais também precisavam de uma solução para detectar adulterações em documentos. Entre os materiais submetidos estava uma carteira de trabalho. A Previdência Social desconfiava de uma adulteração no campo referente ao tempo de serviço e a equipe da Unicamp comprovou a fraude por meio da EASI-MS.
“A tinta não envelhece na caneta, o envelhecimento começa após o contato com o papel”, explicou o pesquisador. Com isso, a equipe verificou que é possível diferenciar traços feitos com a mesma tinta em épocas distintas.
Sem destruir o documento, a espectrometria de massa identifica quais partes da escrita são antigas e quais foram acrescentadas posteriormente, em um grau de detalhamento que permite localizar os pontos de cruzamento entre os traços e revelar qual está por cima. Atualmente, esse tipo de análise de documentos é feito por meio de observações com microscópios, o que é mais impreciso e demorado.
Rastreamento e fiscalização
A nova técnica também pode auxiliar em outra área importante da criminalística: o tráfico de drogas. Ao decompor entorpecentes, a EASI-MS detalha a composição química e com ela fornece dados importantes para a polícia rastrear a fonte do produto.
“As substâncias encontradas são traçadores químicos de origem. As impurezas presentes na cocaína vinda da Colômbia, por exemplo, são diferentes das observadas na droga produzida na Bolívia”, explicou Eberlin.
Com isso, os policiais poderão contar com uma informação precisa e que hoje só pode ser obtida por meio do depoimento de traficantes presos. Com a colaboração das polícias Civil e Federal, o laboratório da Unicamp realizou com sucesso análises de comprimidos de ecstasy, de lotes contrabandeados de suldenafil – princípio ativo de remédios para impotência sexual – e da cocaína.
Além do ramo criminal, a nova técnica também poderá auxiliar os serviços de fiscalização e de inspeção de produtos. A EASI-MS, por exemplo, fornece com exatidão o teor de óleo de soja presente em uma amostra de azeite de oliva e identifica possíveis contaminantes. Saber se um determinado uísque foi adulterado, ou se foi mesmo envelhecido pelo tempo que consta no rótulo, é outra possibilidade.
Essas mesmas aplicações valem para uma infinidade de produtos. A equipe de Eberlin já foi consultada para analisar a qualidade e o tipo de óleos presentes em amostras de biodiesel e para verificar o conteúdo de óleos cosméticos.
“Uma indústria de cosméticos que trabalha com produtos da Amazônia, como jaborandi e andiroba, queria saber se os óleos que recebia dos fornecedores eram realmente feitos dessas matérias-primas”, contou.
Os métodos convencionais para determinar a composição de óleos envolvem processos trabalhosos e demorados como hidrólise seguida de derivatização para extrair componentes. O tempo de análise de uma amostra realizada com essas técnicas equivale ao tempo médio de 100 ou 200 análises feitas pela EASI-MS.
Além disso, existem outras tecnologias de análise que necessitam de recursos complexos, como laser, alta voltagem ou lâmpadas especiais. A EASI-MS, ressalta Eberlin, é uma adaptação mais simples, feita em um espectrômetro de massa e que utiliza água e etanol como spray de ionização.
As facilidades da técnica aliadas ao seu baixo custo despertaram o interesse de órgãos de controle de qualidade e de certificação como o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), além dos dois parceiros do projeto, a Polícia Civil de São Paulo e a Polícia Federal.
Os trabalhos produzidos no âmbito do Projeto Temático FAPESP já resultaram em 25 artigos científicos publicados em periódicos internacionais como Analytical Chemistry e Journal of Forensic Science, da American Chemical Society, The Analyst, da Royal Society of Chemistry, e Journal of Mass Spectrometry e Rapid Communications in Mass Spectrometry, da Wiley.
O próximo passo do projeto, segundo Eberlin, é difundir e viabilizar a aplicação da tecnologia por meio da miniaturização dos espectrômetros de massa.
Apesar de já existir modelos portáteis, com cerca de quatro quilos, os mais utilizados nos laboratórios têm o tamanho de uma geladeira e os menores são um pouco maiores que um forno de micro-ondas. Com a ampliação das aplicações, o pesquisador acredita que o preço do aparelho, cerca de US$ 20 mil hoje, também deverá encolher.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Rastilhos

A Mensagem de Ano Novo do Presidente da República condensa os lugares-comuns da retórica da impotência, característica dos discursos da direita em geral, e do PSD em especial. Que sentido tem repetir maniacamente que há desemprego e défice demasiado altos? Acaso só a direita é que está preocupada? Será que o Governo ignora os números, esse mesmo Governo que reduziu o défice quando pôde e apoiou as vítimas da crise internacional quando foi necessário? Este alarmismo estéril e tóxico, nunca se comprometendo com alguma solução, manifesta a paupérrima qualidade intelectual e cívica que constitui a actual direita.
Mas o melhor do discurso de Ano Novo vem do reino da metáfora: situação explosiva. Coincidindo com o descalabro no BCP e BPN, finais de 2007, os círculos cavaquistas passaram a falar da ameaça de explosões sociais. A SEDES, no princípio de 2008, foi para a janela gritar que havia na sociedade um difuso mal-estar – isto é, que o relógio já estava em contagem decrescente para o grande peido. E em Junho desse ano sentiu-se o cheiro da pólvora, com o bloqueio das transportadoras, animado por um gabiru ligado ao PSD. Este quadro de ameaças vagas e crescente retórica catastrofista, misturado com apelos à intervenção presidencial, recolheu imediata adesão dos sectores da sociedade mais fragilizados cultural e cognitivamente, tendo sido transformado em estratégia política com os tópicos da política de verdade, asfixia democrática e medo.
Acontece que em Portugal as explosões sociais são um negócio do PCP. Eles é que têm as carrinhas, camionetas e camiões autárquicos, assim como uma base de dados nacional com os nomes dos revolucionários sempre prontos a largar o bulimento, ou a bisca deslambida, e vir até à Capital abrir o apetite com umas caminhadas avenida a baixo. Depois, chegam os manfios do BE, colocam-se no passeio sorridentes e fazem os directos para a TV. Uma explosão social bem organizada funciona assim – escusado será lembrar que as explosões socias desorganizadas não funcionam, isto é de lenina caprina.
Moral da história: os que à direita falam em explosões sociais mal conseguem conter o seu desejo que aconteçam, deixando-se apanhar a acender o rastilho. Ver o Presidente da República alinhado com esses irresponsáveis, só confirma que os mínimos para estar à altura da função há muito explodiram em Belém.


In: Aspirina B

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Diagnóstico em aves

Por Fábio Reynol

Agência FAPESP – No fim da década de 1990, a indústria avícola descobriu um problema ósseo, a discondroplasia tibial, ou falta de calcificação da tíbia, que atingia mais da metade dos frangos criados.
A enfermidade foi um efeito indesejado do processo de seleção genética, que dava preferência às aves com mais carne para servir como reprodutoras. Os animais ficaram mais corpulentos a cada geração, mas o desenvolvimento da tíbia não acompanhou o aumento de peso. Como resultado, esses ossos não calcificavam. Permaneciam moles, em estado cartilaginoso.
O problema causa sofrimento às aves que sentem dor ao andar e, por isso, acabam se alimentando menos e ficando mais tempo deitadas, prejudicando o crescimento e provocando dermatites, entre outros problemas.
No início do ano 2000, a zootecnista Ibiara Correia de Lima Almeida Paz começou a estudar o assunto em seu mestrado na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no campus de Botucatu. O objetivo era desenvolver um método que permitisse o diagnóstico da doença sem que fosse preciso sacrificar as aves.
“Na época, só havia uma técnica de diagnóstico de animais vivos, mas era patenteada em nome de uma empresa multinacional e, portanto, não acessível”, explica Ibiara, que hoje é professora da Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), no Mato Grosso do Sul.
A pesquisadora contou com apoio da FAPESP na forma de bolsa de Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado, este último intitulado “Densidade mineral óssea de aves de interesse zootécnico – Gallus gallus (poedeiras semi-pesadas e frangos de corte) e Struthio camelus (avestruzes) e concluído em 2009. Todos os trabalhos de pesquisa foram orientados pelo professor Ariel Antonio Mendes, do Departamento de Produção Animal da FMVZ.
Ibiara optou por adaptar uma metodologia de diagnóstico aplicada a cães e gatos que havia sido desenvolvida pelo professor Luiz Carlos Vulcano, da FMVZ. O sistema utilizava técnica de raios X, mas esbarrava em um problema de portabilidade.
“No início, levávamos as aves para o hospital veterinário da faculdade, mas isso se mostrou inviável ao longo do tempo”, contou. A solução foi transportar equipamentos portáteis de raios X para o campo.
Resolvido o problema da coleta de dados diagnósticos, ainda era preciso desenvolver um método para analisá-los. O desafio estava em medir o teor de cálcio e de fósforo dos ossos radiografados. Esses dois minerais são os principais elementos formadores da hidroxiapatita, o composto responsável pela rigidez óssea e que tem densidade muito próxima à do alumínio.
A solução foi elaborar uma escala com teores diferentes de alumínio, que serviria de padrão de comparação para detectar a quantidade de hidroxiapatita nas tíbias das aves.
“Comparamos as tonalidades cinzentas da escala de alumínio com a cor da radiografia e, com isso, conseguimos verificar o índice de calcificação do osso e se a ave sofria de discondroplasia tibial”, disse Ibiara.
Frangos no tapete eletrônico
Durante os estudos, o grupo da FMVZ soube que a professora Irenilza de Alencar Nääs, da Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas, estava utilizando em seu trabalho um tapete eletrônico desenvolvido por um fabricante de calçados esportivos para analisar pisadas de atletas.
Com o apoio da professora da Unicamp, Ibiara levou frangos para caminhar sobre o tapete e constatou que as aves com problemas no andar começavam a caminhar normalmente após receberem analgésicos. “Naquele momento percebemos que as aves sofriam dores por causa da doença”, disse.
A pesquisa recebeu vários prêmios, como o de melhor trabalho na 19ª Conferência Europeia de Avicultura, em 2002, na Alemanha, e o de melhor trabalho na área de produção da Conferência da Fundação Apinco de Ciência e Tecnologia Avícolas, em 2008.
Ibiara continua nessa linha de pesquisa, agora identificando outros problemas ósseos, como a degeneração femural dos frangos e desvios na coluna vertebral que surgiram quando o melhoramento genético, a manipulação e a nutrição começaram a reduzir os índices de discondroplasia tibial.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O estranho caso dos activos mágicos

Quando, no final do ano passado, seis bancos aceitaram emprestar 450 milhões de euros para salvarem o Banco Privado Português (BPP) da falência, vários detalhes ficaram por explicar. Entre a pressão privada e os ziguezagues públicos, surgiu o suspeito valor atribuído à contragarantia apresentada ao Estado pela instituição beneficiária.
Esta destinava-se a proteger os interesses públicos no caso de o BPP falhar os seus compromissos, circunstância em que os credores poderiam accionar o aval concedido pelo Governo com o objectivo de serem reembolsados. Onde estava a surpresa? No simples facto de, por artes mágicas, o BPP ter tirado da manga um conjunto de activos de valor superior ao do empréstimo contraído, prodígio que se julgava impossível devido às dificuldades que a instituição atravessava.
Aparentemente, o Privado tinha património. E este forneceu, na época, conforto suficiente para o Governo qualificar o aval concedido como uma operação de baixo risco, enquanto assegurava que os interesses dos contribuintes estavam devidamente protegidos. Em caso de acidente, os tais activos reverteriam para o Estado e o que tinha começado mal acabaria bem. Tudo parecia perfeito, numa época de perfeito desastre no sector financeiro. Mas pelo menos um pormenor não batia certo com as vagas explicações oficiais do Governo e do Banco de Portugal.
Era muito pouco provável que a contragarantia fosse tão sólida quanto se pretendia fazer crer. Caso contrário, não se poderia entender por que motivo os bancos credores não a teriam aceitado sem necessitarem de exigir um aval do Estado antes de colocarem um único cêntimo nas mãos do periclitante BPP. O Tribunal de Contas e uma auditoria da Deloitte vieram agora colocar à vista aquilo que foi mal disfarçado e acabaram com o "mistério" que, na verdade, nunca o foi.

Os activos que compõem a contra-garantia valem bem menos que o empréstimo avalizado pelo Governo, afirmam agora as duas entidades que analisaram a questão. E uma parte desse património pode nem existir, porque está assente em créditos que dependem de serem cobrados. Ao contrário do que sugeriu o papel de embrulho utilizado pelas Finanças para venderem a operação à opinião pública, a engenharia que salvou o BPP foi de alto risco. A avaliação da contra-garantia foi feita à pressa e de forma superficial e o dinheiro dos contribuintes acabou por ser comprometido sem que se tivessem observado as mínimas cautelas.
O Governo salvou o BPP mas quis fingir que não o estava a fazer. A encenação chegou ao fim e só falta saber qual o valor da factura que vai ser liquidada pelos cofres públicos.

“João Candido Silva”