quinta-feira, 17 de março de 2011

Salazar uma biografia política analisa trajetória do ditador português


António de Oliveira Salazar tem lugar assegurado entre os maiores ditadores do século 20, quaisquer que sejam os critérios de classificação. Porém, muitas de suas biografias disponíveis foram encomendadas ou escritas por defensores.  Faltava um trabalho acadêmico do porte de “Salazar – uma biografia política”, de Filipe Ribeiro de Menezes. Com 800 páginas, esse historiador português radicado na Irlanda apresenta um trabalho de fôlego, resultado de sete anos de pesquisa sobre o governante de Portugal no período de 1932 até 1968.
Salazar instaurou o Estado Novo (1933-1974), regime político autoritário que estabeleceu a censura prévia de publicações e transmissões, criou a temida Polícia Internacional e de Defesa do Estado, a PIDE, além de uma potente máquina de propaganda. Frequentemente comparado ao general Franco, seu vizinho e colaborador, sua influência política foi seguramente mais ampla, estendendo-se pela Ásia e África. Manteve Portugal praticamente incólume à Segunda Guerra Mundial, sustentando uma posição de neutralidade.  Sob o comando de Salazar, o país foi membro fundador da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) e da Associação Europeia de Livre Comercio (EFTA) e resistiu ao processo de libertação das colônias africanas e asiáticas, que posteriormente mostrou-se inevitável.
Salazar reconfigurou a política portuguesa no decorrer de seu longo governo - foi o ditador que mais tempo permaneceu no poder na Europa. Impossível compreender a história recente de Portugal, e de também de uma série de outras nações, sem analisar a trajetória desse político.
Para redefinir “Salazar – uma biografia política” Ribeiro de Menezes de trabalhou incansavelmente com o acervo do Arquivo Oliveira Salazar, constituído pelos documentos privados e políticos de Salazar e alojado no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa. O resultado é uma obra de referência, indispensável para compreender episódios importantes na história do século 20.
A definição da ‘grandeza’ de um ditador é, na melhor das hipóteses, esquiva: que mais não seja, em termos da sua longevidade no poder, dos povos e quilômetros quadrados sob o seu governo, bem como da criação de uma etocracia, ou mesmo de uma ideologia distinta, António de Oliveira Salazar nada deve em ‘grandeza’ ao seu vizinho e frequente colaborador, Franco. Enquanto a vida e a acção de Franco estavam circunscritas a Espanha e ao seu protectorado marroquino, as consequências das decisões de Salazar eram sentidas por povos na Europa, África e Ásia.”

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