sexta-feira, 25 de março de 2011

O principio do fim da era da abrilada


Um Estado Social, na sua verdadeira acepção da palavra, é aquele que dedica a sua atividade ao bem estar comum, promovendo equilíbrios na sua manutenção por forma a tornar praticamente infindável a sua sustentabilidade.
Esta é uma das minhas visões de Estado Social, baseada na analise presencial de inúmeras realidades mundo afora.
Portugal nunca foi um Estado Social, ou melhor dizendo; nunca viveu de acordo com um digno Estado Social, porquanto mesmo depois da famigerada revolução da abrilada, que prometia o céu, a terra e até viagens a marte aos cidadãos, nem ai os portugueses puderam degustar de uma sociedade virada para o bem estar comum.
Na minha memoria retenho o que me parecia ser o mais próximo com Estado Social, e que foi vivenciado no antes de Abril de 74, de acordo com uma distribuição equilibrada da riqueza e da miséria. Obviamente que os mais avantajados nas ideias sonhavam poder abocanhar muito mais do que o estomago poderia comportar, e dessa forma criaram aquilo que apelido de badernice gestionaria, estado situacional avançado em que nos encontramos hoje, e sempre com tendência para aumentar os desiquilíbrios sociais.
Nunca como agora existiu tanto cidadão a viver de acordo com aquilo que temos por miséria, e nunca como agora tivemos em Portugal a autentica fome a circular de casa em casa, como se isso fosse a normalidade da vida nacional.
Mas não se iludam, pois o pior ainda esta por chegar, uma vez que economicamente Portugal esta falido, e a casta politica criada na abrilada não se atemoriza com a situação e quer continuar a sugar o mais que puder, para sustentar as suas mordomias criadas na base de anos e anos de legislação protecionista, que eles próprios criaram por forma a se alavancarem na sociedade chegando a patamares impróprios da realidade econômica nacional.
Manter um numero de deputados incompatível com a área geográfica e o numero de cidadãos, é uma das medidas mais atentas a fecundação de lugares para distribuir. Seria mais logico que em vez das duas centenas e meia, Portugal pudesse ter um pouco mais de uma centena de tribunos. Olhamos para o mapa regional, e o que encontramos são autarquias semeadas a esmo, como se cogumelos fossem para poder acolher os políticos de segunda linha, e com isso distribuir mais lugares aos compadres. Das freguesias então nem se fala, pois existem mais Juntas de Freguesia que estrelas tem o céu...
Olho para outras tristes realidades exageradamente implantadas no Portugal que embora de tanga, não se quer vergar a sua realidade de misero País periférico, que foi acolhido na CE não para servir de nação igualitária, mas antes para servir de área geográfica de chegada rápida e segura ao Atlântico, e ao mesmo tempo para ser instituído como território de implantação de sectores tradicionalmente desprezados nas chamadas nações ricas, assim do estilo Alemanha, França, Inglaterra, Italia...
Como é possível que Portugal, nas condições de todos conhecidas mantenha Governos Civis, Institutos de cu para baixo e de cu para cima, uma banca que ri na cara dos contribuintes, uma lista infindável de instituições desnecessárias sustentadas pelo erário publico.
È por causa destas tristes realidades que Portugal esta na situação calamitosa em que se encontra, e que vai obrigar a nova intervenção salvadora do FMI.
Seria tão fácil reduzir custos, acabar com mordomias, e rentabilizar a realidade existente, por forma a que os portugueses pudessem viver condignamente na sua justa medida das possibilidades reais e não na base de sonhos impossíveis de se tornarem realidade, e que estão a virar autênticos pesadelos.
Peguem numa maquina calculadora, pois os dígitos são demasiado grandes para se poderem apurar na simples ponta de um lápis, e vejam quanto se pouparia sem Governos Civis, com um parlamento com menos 100 tribunos, com uma distribuição territorial de municípios baseada nas realidades, e não nos interesses particulares de uma cambada de caciques “bostinhas”, que se querem alavancar a autênticos monarcas. Peguem em mais de metade das Juntas de Freguesia e fundam as mesmas por áreas geográficas bem maiores. Acabem com umas dezenas, para não dizer centenas, de institutos e fundações que apenas servem para lavar fundos, e sugar impostos ao erário publico.
Peguem nos serviços de Ministérios e capacitem o seu funcionamento de acordo com a realidade, e não com a atual necessidade de dar lugares de emprego a filhos e enteados.
Porque será que um Ministro não pode deslocar-se num automóvel adequado a sua função e tem que se deslocar numa chamada bomba de ultima geração, só para sustentar o seu ego... porque será que num determinado Ministério para servir o seu patrono em vez de se ter duas viaturas se adquirem umas sete ou oito...
Portugal tem que acordar para a sua realidade, e de uma vez por todas viver de acordo com aquilo que pode, e não de acordo com os sonhos de alguns patetas que esquecendo milhões de cidadãos se tornaram os verdadeiros coveiros da nacionalidade.
Gostaria de terminar este rosário de exemplos sem ter que falar de facadas nas costas do cidadão comum... mas isso é impossível de acontecer num Portugal pejado de insensibilidade...
Escândalos surgem todos os dias, aos nossos olhos, mas algumas tristes realidades chocam mais do que outras a nossa sensibilidade. Um cidadão leva toda uma vida a trabalhar e a ser descontado para poder sonhar ter um dia uma velhice condigna, com uma aposentadoria que lhe permita ter uns dias de tranquila paz e qualidade de vida.
Vai dai, alguns descontam 365 dias sobre 365 dias, na parede da imaginação, esperando pela tão sonhada aposentadoria. Finalmente esse dia chega, e contas feitas, o valor a receber mensalmente é uma misera migalha daquilo que tinham imaginado poder ter como qualificação de uma vida...
Para piorar ainda mais essa imagem, ficam a saber que os governantes, por si próprio eleitos, se preparam para descontar com mais uma carga de impostos, a sua misera aposentadoria, em nome da crise e da necessidade de poupança, e aumento de receitas...
E a vida... seria a vida, se não fosse o facto de esses mesmos governantes se auto - aumentarem, e ao mesmo tempo decidirem aumentar o valor das parcerias publico-privadas, de uma forma escandalosa, atendendo a que poupam singelos 300 milhoes com os aposentados, e ao mesmo tempo coloca nas mãos da Mota – Engil e do BES a modica quantia de 150 milhões...
Na Inglaterra existiu um herói muito famoso, e que fazia parte do meu ideário de menino, que se dedicava a pilhar os ricos para dar algum sustento aos pobres, no caso do Governo português, se passa o contrário, temos um bando de Robin’s a pilhar os pobres para distribuir pelos ricos, para que fiquem ainda mais ricos...  
Foi a abrilada quem criou esta casta de políticos salteadores, e será essa mesma casta de bandoleiros quem vai possibilitar o fim desta era de empobrecimento nacional, e descredito da imagem de um País que já foi um bom exemplo para o mundo e hoje não passa de uma vergonha mundial.
O principio do fim da abrilada teve o seu epilogo na tarde de ontem, com o chumbo de mais uma amalgama de privações econômicas que se iriam implantar na sociedade. Não podemos ser ingênuos ao ponto de acreditar que a não aprovação dessas medidas é a resposta certa para a crise. A resposta mais certa para o estado situacional que se vive em Portugal vai ser dada quando os dignatarios do FMI baterem a porta para entrar na gestão nacional, colocando um ponto final paragrafo na badernice nacional.
Paralelamente é mais do que necessária uma mudança urgente de políticos e ao mesmo tempo de politicas. Os Pedrinhos, Paulinhos, Zezinhos e companhia Lda, devem ser banidos, e em seu lugar deve surgir uma nova geração de cidadãos responsáveis que se dediquem a causa publica sem terem como meta o seu beneficio pessoal...
Portugal ainda tem cidadãos com capacidade de gestão, e que estão fora da casta politica vigente. Terá que ser com esses insignes portugueses que teremos que pensar num futuro diferente, pois fora disso a ruina será o caminho mais próximo para matar aquilo que muitos, ao longo de séculos, lutaram por defender – a nacionalidade!!!

“João Massapina”               

terça-feira, 22 de março de 2011

Comité de Especialidade do MPLA para a Mudança...

Circular 01/CEMPLAM/2011
Caros Camaradas
Compatriotas
 
As revoluções populares que estão a varrer as ditaduras do Norte de África em breve cruzarão a África Sub-Sahariana.
São os ventos da mudança.
Angola tem uma das mais longas ditaduras em África e no mundo. Angola tem um dos regimes mais corruptos e arrogantes do mundo.
Caros Camaradas
Compatriotas,
 
Precisamos de calma, inteligência e solidariedade para realizarmos a mudança de regime sem violência nem pilhagens.
Como membros do MPLA, lançamos o Comité de Especialidade da Mudança.
Este comité vai juntar a vontade dos militantes que desejam o derrube pacífico do Presidente do nosso partido e da República, o Camarada Engenheiro José Eduardo dos Santos.
O MPLA precisa de se adaptar às novas circunstâncias em que a vontade popular supera hoje as ditaduras.
Em Angola, a ditadura é exercida pelo Camarada Presidente Dos Santos e um grupo muito restrito de membros do MPLA, como o Feijó e o Manuel Vicente; oficiais generais, como o Kopelipa e José Maria, oficiais comissários como o Nandó e o Sebastião Martins; e uma cambada de ladrões a todos níveis da administração do Estado.
Este não é o MPLA do povo. O verdadeiro patriota nada tem a ver com este MPLA. Temos de salvar o MPLA, para salvarmos a Nação.
Compatriotas,
O Camarada José Eduardo dos Santos não vai arrastar o MPLA para a tragédia, como o Savimbi fez com a UNITA, por obsessão, arrogância e desafio aos ventos da mudança. Como patriotas e membros conscientes do MPLA não permitiremos que o Camarada Presidente siga o caminho do Kadhafi que prefere destruir o seu país e morrer no poder.
Camaradas,
Aproveitemos a festa de carnaval que se aproxima, para nos manifestarmos contra o Camarada José Eduardo dos Santos. Ele vai estar lá. Vamos todos gritar ABAIXO O DITADOR! Ali mesmo no Carnaval, na Marginal.
Aproveitemos todas as manifestações do MPLA para mostrarmos que o MPLA não é o Camarada José Eduardo dos Santos.
O MPLA deve estar do lado do povo que sofre.
O MPLA deve  expulsar os corruptos!
Viva o Povo Angolano!
Viva o MPLA!
Abaixo o Camarada Ditador José Eduardo dos Santos

Sambizanga, 26 de Fevereiro de 2011

sábado, 19 de março de 2011

Geração à Rasca - A Nossa Culpa

Um dia, isto tinha de acontecer.
Existe uma geração à rasca?
Existe mais do que uma! Certamente!
Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança
caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da
vida.
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com
frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à
rasca são os que mais tiveram tudo.
Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na
sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como
lhes tem sido exigido nos últimos anos.

Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha
geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se
das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram
dar aos seus filhos o melhor.
Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos
seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração
mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida
desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de
condução e 1º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso
para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro
emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos
cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o
dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em
substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já
que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra
(quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.

Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A
vaquinha emagreceu, feneceu, secou.

Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem
Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se
entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a
pagar restaurante aos filhos, num país onde  uma festa de aniversário de
adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da
luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos
não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos
qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.

São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de
dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por
isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque
eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram
que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém
lhes pode dar!

A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas
décadas.

Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por
escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na
proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país
lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a
pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio
nenhum. Uma geração que tem acesso a  informação sem que isso signifique que
é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e
interpretação da realidade em que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não
poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que
deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou
etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre
emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que
nem um nem outro abundam.
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como
mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi
ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe
chega e o acessório se lhe tornou indispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.
Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a
quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.

Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e
inteligência nesta geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no
retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem
são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem,
atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são
empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que
inveja!, que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como
se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes
de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.

E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos
locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns
acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente
ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!

Novos e velhos, todos estamos à rasca.
Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme
convicção de que a culpa não é deles.
A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer
melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade
não consegue, não quer, não pode assumi-la.
Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam. Haverá
mais triste prova do nosso falhanço?
Pode ser que tudo isto não passe de alarmismo, de um exagero meu, de uma
generalização injusta.
Pode ser que nada/ninguém seja assim. 

"Mia Couto"

quinta-feira, 17 de março de 2011

Salazar uma biografia política analisa trajetória do ditador português


António de Oliveira Salazar tem lugar assegurado entre os maiores ditadores do século 20, quaisquer que sejam os critérios de classificação. Porém, muitas de suas biografias disponíveis foram encomendadas ou escritas por defensores.  Faltava um trabalho acadêmico do porte de “Salazar – uma biografia política”, de Filipe Ribeiro de Menezes. Com 800 páginas, esse historiador português radicado na Irlanda apresenta um trabalho de fôlego, resultado de sete anos de pesquisa sobre o governante de Portugal no período de 1932 até 1968.
Salazar instaurou o Estado Novo (1933-1974), regime político autoritário que estabeleceu a censura prévia de publicações e transmissões, criou a temida Polícia Internacional e de Defesa do Estado, a PIDE, além de uma potente máquina de propaganda. Frequentemente comparado ao general Franco, seu vizinho e colaborador, sua influência política foi seguramente mais ampla, estendendo-se pela Ásia e África. Manteve Portugal praticamente incólume à Segunda Guerra Mundial, sustentando uma posição de neutralidade.  Sob o comando de Salazar, o país foi membro fundador da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) e da Associação Europeia de Livre Comercio (EFTA) e resistiu ao processo de libertação das colônias africanas e asiáticas, que posteriormente mostrou-se inevitável.
Salazar reconfigurou a política portuguesa no decorrer de seu longo governo - foi o ditador que mais tempo permaneceu no poder na Europa. Impossível compreender a história recente de Portugal, e de também de uma série de outras nações, sem analisar a trajetória desse político.
Para redefinir “Salazar – uma biografia política” Ribeiro de Menezes de trabalhou incansavelmente com o acervo do Arquivo Oliveira Salazar, constituído pelos documentos privados e políticos de Salazar e alojado no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa. O resultado é uma obra de referência, indispensável para compreender episódios importantes na história do século 20.
A definição da ‘grandeza’ de um ditador é, na melhor das hipóteses, esquiva: que mais não seja, em termos da sua longevidade no poder, dos povos e quilômetros quadrados sob o seu governo, bem como da criação de uma etocracia, ou mesmo de uma ideologia distinta, António de Oliveira Salazar nada deve em ‘grandeza’ ao seu vizinho e frequente colaborador, Franco. Enquanto a vida e a acção de Franco estavam circunscritas a Espanha e ao seu protectorado marroquino, as consequências das decisões de Salazar eram sentidas por povos na Europa, África e Ásia.”

terça-feira, 15 de março de 2011

A Líbia no grande jogo da nova partição da África

Fogem da Líbia não apenas famílias que temem pelas suas vidas e imigrantes pobres de outros países norte-africanos. Há dezenas de milhares de "refugiados" que estão a ser repatriados pelos seus governos por meio de navios e aviões: são principalmente engenheiros e executivos de grandes companhias de petróleo. Não só a ENI [Itália], a qual realiza cerca de 15 por cento das suas vendas a partir da Líbia, mas também outras multinacionais europeias - em particular, a BP [Grã-Bretanha], Royal Dutch Shell [Holanda/Inglaterra], Total [França], BASF [Alemanha], Statoil [Noruega], Repsol [China/Espanha]. Centenas de empregados da Gazprom [Rússia] foram também forçados a deixar a Líbia e mais de 30 mil trabalhadores chineses da sua companhia de petróleo e de construção. Uma imagem simbólica de como a economia líbia está interconectada com a economia global, dominada pelas multinacionais.

Graças às suas ricas reservas de petróleo e gás natural, a Líbia tem uma balança comercial positiva de US$27 mil milhões por ano e um rendimento per capita médio-alto de US$12 mil, seis vezes maior que o do Egipto. Apesar de fortes diferenças entre rendimentos altos e baixos, o padrão de vida médio da população da Líbia (apenas 6,5 milhões de habitantes em comparação com os cerca de 85 milhões no Egipto) é portanto mais elevado do que o do Egipto e de outros países da África do Norte. Testemunho disso é o facto de que cerca de um milhão e meio de imigrantes, principalmente norte-africanos, trabalha na Líbia. Uns 85 por cento das exportações líbias de energia vêm para a Europa: a Itália em primeiro lugar com 37 por cento, seguida pela Alemanha, França e China. A Itália também está em primeiro lugar em exportações para a Líbia, seguida pela China, Turquia e Alemanha.

Esta estrutura agora explodiu devido ao que pode ser caracterizado não como uma revolta das massas empobrecidas, tal como as rebeliões no Egipto e na Tunísia, mas como umas guerra civil real, em consequência de uma divisão no grupo dominante. Quem quer que seja que tenha feito o primeiro movimento explorou o descontentamento contra o clã Kadafi, que prevalece especialmente entre as populações da Cirenaica e entre jovens nas cidades, num momento em que toda a África do Norte tomou o caminho da rebelião. Ao contrário do Egipto e da Tunísia, contudo, o levantamento líbio foi planeado previamente e organizado.

As reacções na arena internacional também são simbólicas. Pequim disse estar extremamente preocupada acerca dos desenvolvimentos na Líbia e apelou a "um rápido retorno à estabilidade e normalidade". A razão é clara: o comércio sino-líbio experimentou crescimento forte (cerca de 30 por cento só em 2010), mas agora a China verifica que toda a estrutura das relações económicas com a Líbia, da qual importa quantidades crescentes de petróleo, foram postas em causa. Moscovo está numa posição semelhante.

O sinal de Washington é diametralmente oposto: o presidente Barack Obama, que quando confrontado com a crise egípcia minimizou a repressão desencadeada por Mubarak e apelou a uma "transição ordenada e pacífica", condenou o governo líbio em termos inequívocos e anunciou que os EUA está a preparar "o conjunto completo de opções que temos disponíveis para responder a esta crise", incluindo "acções que possamos empreender por nós próprios e aquelas que possamos coordenar com os nossos aliados através de instituições multilaterais". A mensagem é claro: há a possibilidade de um intervenção dos EUA/NATO na Líbia, formalmente para interromper o banho de sangue. As razões também são claras: se Kadafi for derrubado, os EUA seriam capazes de fazer ruir toda a estrutura das relações económicas com a Líbia, abrindo o caminho para multinacionais com base nos EUA, até agora quase totalmente excluídas da exploração das reservas de energia na Líbia. Os Estados Unidos poderiam então controlar a torneira de fontes de energia sobre as quais a Europa depende amplamente e que também abastecem a China.

Trata-se de acontecimentos no grande jogo da divisão dos recursos africanos, pelos quais uma confrontação crescente, especialmente entre a China e os Estados Unidos, está a verificar-se. A potência asiática em ascensão - com a presença na África de cerca de 5 milhões de administradores, técnicos e trabalhadores - constrói indústrias e infraestrutura, em troca de petróleo e outras matérias-primas. Os Estados Unidos, que não podem competir a este nível, podem utilizar a sua influência sobre as forças armadas dos principais países africanos, as quais são treinadas através do Africa Command (AFRICOM), o seu principal instrumento para a penetração do continente. A NATO agora também está a entrar no jogo, pois está prestes a concluir um tratado de parceria militar com a União Africana, a qual inclui 53 países.

A sede da parceria da União Africana com a NATO já está em construção em Adis Abeba: uma estrutura moderna, financiada com 27 milhões de euros da Alemanha, baptizada "Edifício paz e segurança".

·  Do mesmo autor: Libya - When historical memory is erased

[*] Jornalista

O original encontra-se em Il Manifesto, 25/Fevereiro/2011, e a versão em inglês em
http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=23413


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

por Manlio Dinucci

quinta-feira, 3 de março de 2011

Este é o maior fracasso da democracia portuguesa

Esta jornalista vai acabar os seus dias no Hospital Magalhães de Lemos, ou com um tiro  fatal.

A Ditadura Democrática Portuguesa elimina os que pensam e promove os Burros. (peço desculpa ao animal, de que tenho muito carinho e admiração)

Este é o maior fracasso da democracia portuguesa
Não admira que num país assim emerjam cavalgaduras, que chegam ao topo, dizendo ter formação, que nunca adquiriram, (Olá! camaradas Sócrates...Olá! Armando Vara...), que usem dinheiros públicos (fortunas escandalosas) para se promoverem pessoalmente face a um público acrítico, burro e embrutecido.
Este é um país em que a Câmara Municipal de Lisboa, em governação socialista, distribui casas de RENDA ECONÓMICA - mas não de construção económica - aos seus altos funcionários e jornalistas, em que estes últimos, em atitude de gratidão, passaram a esconder as verdadeiras notícias e passaram a "prostituir-se" na sua dignidade profissional, a troco de participar nos roubos de dinheiros públicos, destinados a gente carenciada, mas mais honesta que estes bandalhos.
Em dado momento a actividade do jornalismo constituiu-se como O VERDADEIRO PODER. Só pela sua acção se sabia a verdade sobre os podres forjados pelos políticos e pelo poder judicial. Agora continua a ser o VERDADEIRO PODER mas senta-se à mesa dos corruptos e com eles partilha os despojos, rapando os ossos ao esqueleto deste povo burro e embrutecido.
Para garantir que vai continuar burro o grande "cavallia" (que em português significa cavalgadura) desferiu o golpe de morte ao ensino público e coroou a acção com a criação das Novas Oportunidades.
Gente assim mal formada vai aceitar tudo, e o país será o pátio de recreio dos mafiosos.

A justiça portuguesa não é apenas cega. É surda, muda, coxa e marreca.
Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso, apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção.
Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo "normal" e encolhem os ombros.

Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado.
Não se fala mais nisso. Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada.

Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia, que se sabe que, nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas consequências, nada é definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado.
Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao caso Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o que verdadeiramente se passou, nem quem são os criminosos ou quantos crimes houve.

Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços de enigma, peças do quebra-cabeças. E habituamo-nos a prescindir de apurar a verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história é uma coisa normal em Portugal, e que este é um país onde as coisas importantes são "abafadas", como se vivêssemos ainda em ditadura.

E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogs, dos computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, e esperando nunca vir a saber com toda a naturalidade.
Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às escutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente ao caso da Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa Benfica, da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, de Fátima Felgueiras a Isaltino Morais, da Braga Parques ao grande empresário Bibi, das queixas tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho, há por aí alguém que acredite que algum destes secretos arquivos e seus possíveis e alegados, muitos alegados crimes, acabem por ser investigados, julgados e devidamente punidos?

Vale e Azevedo pagou por todos?
Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogado num parque aquático?
Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico?
Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padre Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana?

Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal?

Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios e enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma.

No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível, alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a condenar alguém?
 

As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico da criança, contribuindo para a confusão desta investigação em que a Polícia espalha rumores e indícios que não têm substância.
E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu? E todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou?
E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos, alguns menores, onde tanta gente "importante" estava envolvida, o que aconteceu? Alguns até arranjaram cargos em organismos da UE.

Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu.
E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela reconheceu imensa gente "importante", jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê?
E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára?
O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha.
E aquele médico do Hospital de Santa Maria, suspeito de ter assassinado doentes por negligência? Exerce medicina?

E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca.

Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos são arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao esquecimento.
Ninguém quer saber a verdade.

Ou, pelo menos, tentar saber a verdade.
Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam e abusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra.

Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças, de protecções e lavagens, de corporações e famílias, de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade. 

Este é o maior fracasso da democracia portuguesa

 
Clara Ferreira Alves - "Expresso"