O ano de 2010 que agora termina não deixa saudades aos portugueses, mas as perspectivas para 2011 não são melhores e - quem sabe - ainda podemos olhar para 2010 pensando que, afinal, não foi assim tão mau.
A crise global atingiu-nos com mais força este ano, mas os efeitos devastadores no mercado laboral e na economia portuguesa em geral vão fazer sentir-se ainda por vários anos.
A grande questão que se coloca é: já batemos no fundo ou a situação ainda vai piorar e teremos o FMI a entrar em Portugal.
Para aqueles que defendem que, perante as medidas de austeridade já tomadas pelo Governo, a vinda do FMI não seria assim tão má, convido-os a olhar para a Grécia e Irlanda. Se os cortes salariais impostos pelo Governo penalizam os funcionários públicos imagine-se cortes ainda mais acentuados e despedimento de milhares de funcionários.
Que ninguém se engane, a receita do FMI é simples: cortar na despesa de forma quase cega, o que levaria à perda de muitos apoios sociais, cortes nos salários e despedimentos na administração pública - central e local.
No meio disto tudo, os ataques especulativos, com a conivência das magníficas agências de rating que juravam estar tudo em ordem com o Lehman Brothers até ao dia em que faliu, vão ditando as políticas seguidas pelos Governos dos países periféricos.
Sejamos sinceros: o que mudou tão significativamente na economia portuguesa face há três anos atrás? Os problemas estruturais de baixa produtividade e crescimento limitado não são novidade, as finanças públicas deficitárias também não.
Entretanto, no campo político, o PSD afia as facas para regressar ao poder, sendo que alguns militantes preferiam que o FMI entrasse no País, para justificar as medidas impopulares, e querem eleições o mais rápido possível (mesmo porque os boys não são exclusivo do PS) e outros, mais responsáveis, preferem esperar por uma acalmia da situação.
Portanto, temos um Governo esgotado ao fim de pouco mais de um ano e cujo fim se adivinha antes de 2013.
Resta-nos esperar que 2011 nos surpreenda pela positiva e que a crise sirva para corrigirmos alguns maus hábitos, nomeadamente baixando os padrões de consumo para níveis mais adequados à riqueza que produzimos. Se calhar não precisamos de trocar de carro com tanta frequência, ou comprar o mais recente modelo de telemóvel, ou passar férias em destinos exóticos, mesmo que isso implique recorrer ao crédito.
Pedro Curvelo
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