segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

PORTUGAL COM “SUCESSO” NA VENDA DA DÍVIDA PÚBLICA

Sucesso falso porque hipoteca Próximas Gerações e apenas serve o Governo

Portugal conseguiu o empréstimo de dinheiro novo, no mercado do
capital, no valor de 1250 mil milhões de Euros. Os portugueses têm de
pagar, pelas Obrigações do Tesouro (dívida pública vendida), juros
relativamente baixos. Como refere a imprensa internacional, do crédito
recebido, paga 5,4% pelas Obrigações terminadas em Outubro de 2014 e
6,7% pelas que terminam em 2020.

As condições são relativamente favoráveis, atendendo à recessão de
1,3% da economia portuguesa prevista para 2011, à montanha de dívidas
e aos juros a terem de ser liquidados no ano corrente.

Muitos observadores internacionais admiraram-se pelo facto de o
Governo português não ter recorrido ao crédito do Fundo Europeu de
Estabilização Financeira (FEER), financiado pela EU e pelo Fundo
Monetário. A renúncia ao FEEF, embora de juros mais baixos, explica-se
pelo facto do Governo não querer dar já parte de fraco, como fez a
Grécia, e ir aguentando até depois das eleições a realizar, este ano,
em Portugal.

Técnicos internacionais prevêem para Portugal o recurso ao FEEF porque
vai precisar de pedir um empréstimo de 20.000 milhões de euros em
2011, através da edição de Obrigações do Tesouro.

O fundo de resgate europeu já conta com a necessidade de 100 mil
milhões de ajuda a Portugal.

Portugal, apesar da retórica contrária de Sócrates, terá de recorrer
ao fundo de resgate europeu. No entender da França e da Alemanha,
Portugal não poderá receber, por muito tempo, crédito do mercado do
capital. Depois das eleições presidenciais, a realizar ainda em 22 e
23 de Janeiro, os portugueses serão confrontados com novas dívidas a
fazer. Na filosofia económica em voga, então só o FEEF os poderá
salvar. O Governo poderá então explicar melhor ao povo o porquê da
necessidade de recurso ao fundo de resgate europeu e consequente
intervenção da EU no controlo das finanças portuguesas.

Os credores internacionais concedem crédito porque sabem que a EU fará
com Portugal como fez com a Grécia. O economista americano Nouriel
Roubini revelou ao semanário alemão Der Spiegel: “Finalmente será
utilizado o dinheiro dos contribuintes alemães para acabar com a crise
de dívidas noutros países”. Certamente que a Alemanha tem sido a que
mais beneficia com o Euro e a exportação. Apesar de tudo, muitos
alemães expressam, cada vez mais, a saudade da sua antiga moeda, o
Marco alemão. Se os alemães e os franceses tiverem de apertar mais o
cinto, os portugueses muito mais o apertarão.

Os estados fortes da EU tremem com medo da inflação do Euro. O
português, José Manuel Barroso, Presidente da Comissão Europeia,
preocupado em “fazer o necessário para defender a estabilidade
financeira”, alerta a EU para a necessidade de alargar o fundo de
resgate europeu (FEEF) .

Espera-se que na Cimeira da EU a 4 de Fevereiro suba o actual fundo
para 750 mil milhões de Euros. A chanceler alemã não se pronuncia
sobre o assunto. Este é um ano de muitas eleições na Alemanha e aqui o
cidadão contribuinte é bastante contra medidas de que ele, ao fim e ao
cabo, é o único fiador. Interessante que o seu ministro das finanças
Wolfgang Schäuble quer que se elevem os fundos de salvação europeia
para um milhão de milhões de euros. Ele sabe que Portugal só poderá
ser safo com o apoio do FEEF.

Turbo-capitalismo e Globalização selvagem

Schäuble já prevê os próximos candidatos à insolvência, Espanha e
Bélgica. Uma Europa e um mundo livres, a nível financeiro, tornam-se
em parasitas das economias nacionais. O que o contribuinte paga para a
FEEF e para a salvação dos Bancos torna-se num buraco sem fundo a ir
parar aos bolsos dos Bancos e das Bolsas.

O que está a acontecer na Europa e no mundo, a nível financeiro, é um
crime a saldar pelos nossos filhos e pelos filhos dos nossos filhos. A
banca rota dos estados preanuncia-se numa queda como as peças de
dominó.

Em Bruxelas, os chefes de governo exibem-se ma dança dos símbolos.
Irrealistas, querem melhorar a capacidade de concorrência mas tudo à
custa dos trabalhadores. No mercado financeiro as regras não são
iguais para todos vivendo este à custa de economias fracas. A chance
dos bancos fortes está na insegurança das finanças dos estados. Por
isso estabilizam num lado para desestabilizar no outro. Encontramo-nos
no caminho falso, de engano em engano, adiando a derrocada.
Naturalmente que muitos dos medos que correm provêem duma vida
saturada a perder o arrecadado. Quem começou por vender as jóias
arrecadadas dos valores culturais não se pode admirar se no fim lhe
for apresentada a conta do desregramento.

A ditadura mundial do capital financeiro encontra, na globalização
selvagem, a sua maior oportunidade. As suas estruturas são falsas e
falaciosas. A sua ética destrói toda a ética social e desonra a
consciência do cidadão que, imperceptivelmente, se torna cúmplice dum
sistema injusto e corrupto.

Já Jean-Paul Sartre dizia que, para se amar o Homem, se tinha de odiar
o que o oprime! Isto pressupõe a domesticação das estruturas, dos
estados, dos partidos e dos boys das grandes organizações nacionais e
internacionais. A Terra e o Homem encontram-se a saque! Tudo vê mas
ninguém nota! Tudo se queixa mas confia na “bênção” dos Bancos e na
“metafísica” do mercado que promete a realização do paraíso no
consumo.

Não se pode continuar a reduzir a ética das finanças e da economia a
uma ética do bom tempo. Os lucros não podem continuar a ser comprados
com a moral, o sangue do povo!

António da Cunha Duarte Justo

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