Sob o mote do colóquio «Doentes e Cidadãos», Fernando Gomes, representante da Ordem dos Médicos da Conselho Regional do Centro, provocou a audiência, afirmando que “o medo é hoje um instrumento utilizado nas sociedades para controlar o direito à cidadania”.
Fernando Gomes começa por explicitar os conceitos de doentes e cidadãos, ilustrando com o exemplo da homossexualidade, que são noções em constante alteração.
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No «De doente a cidadão − Responsabilidade da Sociedade sobre os seus doentes», o representante da Ordem dos Médicos reflectiu sobre o modo como o medo pode controlar os aspectos sociais e explica: “A pílula anticoncepcional trouxe a revolução sexual, mas também o medo da SIDA”, ou o “medo de ficar doente”, por exemplo, no caso dos fumadores, que podem estar protegidos da doença de Parkinson mas incute-se o medo pelo cancro do pulmão ou das doenças cardíacas.
Há ainda outras situações em que a sociedade interfere nos direitos da cidadania. Basta pensar em temas como: suicídio assistido, aborto, eutanásia e encarniçamento terapêutico. Fernando Gomes dá o alerta avisando a audiência no Casino da Figueira da Foz, onde decorria o colóquio organizado pelo Ciência Hoje e pela Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da Republica, que “casos como estes vão aparecer cada vez mais”.
Além do medo, na última apresentação do dia, a psicocirurgia foi um dos temas centrais. Fernando Gomes enumerou exemplos de reminiscências históricas e personalidades que se preocuparam com os assuntos da loucura, das manias e melancolia.
Nobel e Lobotomias
Falou-se sobre lobotomias, de testes em chimpanzés até à primeira operação em Portugal, em 1935. Apenas 12 anos depois, reuniram-se em Lisboa os mais importantes nomes da área na «Conferencia Internacional de Psicocirurgia». Dois anos depois, em 1949, Egas Moniz vence o Prémio Nobel mas rapidamente começou-se a questionar esta forma de tratamento.
Voando sobre um ninho de cucos, uma das referências cinematográficas sobre a psicocirurgia
As sequelas físicas, emocionais e comportamentais, incansavelmente ilustradas no cinema e na literatura ao longo das décadas, deram lugar a novas terapias em psiquiatria.
Hoje, já não há picadores de gelo enfiados no cérebro dos doentes através dos olhos. “Temos possibilidade de utilizar a estimulação. Pode reverter-se o procedimento, o que reduz os problemas éticos e há a possibilidade de manipular valores”, afirma Fernando Gomes.
O representante da Ordem dos Médicos, a propósito da evolução tecnológica e da possibilidade de fazer exames de diagnóstico, adianta ainda: “O médico já não é o mestre que ninguém contesta”.
"C.H. - Barbara Gouveia"
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