Português-descendente com muito orgulho !
Luiz Mott
A Tarde, Salvador, Baía, 10-11-2008
Após duas semanas em Lisboa, pesquisando na Torre do Tombo, retornei à Boa Terra com nova e firme convicção: tenho orgulho de ser descendente, distante que seja, do nobre e valoroso povo português. A partir de agora, vou me policiar e denunciar quem fizer piada associando português à burrice. Não nego que nossos ancestrais lusitanos são sisudos, mais para tristes e reservados do que para sorridentes e comunicativos. Porem, no alicerce desta sisudez, há um seriedade de vida e retidão de princípios que infelizmente faz falta ao nosso caráter nacional. Desde o cuidado em apagar a luz ao sair de um sanitário público ou executar com perfeição todo tipo de trabalho, do cozinhar o bacalhau a construir o deslumbrante Mosteiro dos Jerônimos, os lusitanos, irmãos mais velhos da maioria dos brasileiros, dão uma lição de civilização a seus carnavalescos descendentes do Novo Mundo. São sisudos, mas pontuais; são tristes, mas cumprem rigorosamente seus compromissos; são um tanto sem graça, mas nunca vi tantos jovens enamorados demonstrarem carinho em púbico, como a moçada lisboeta: no métro (metrô), nos elétricos (bondes) nos autocarros (ônibus), rapazes e moças se acariciam, se beijam carinhosamente, fazem cafuné um no outro. E ninguém olha ou comenta. Cada qual na sua, curtindo a jarrinha de meio litro do inigualável vinho que tomou no almoço ou no jantar. Apesar de todos os pesares da colonização e violência inter-racial, os portugueses foram os que mais se miscigenaram no mundo inteiro; malgrado a mão de ferro como a metrópole governou a América Portuguesa, nossa independência foi conquistada com muito menor trauma do que dos vizinhos hispano-americanos. Tenho orgulho sim de expressar meus pensamentos na mesma língua de Fernando Pessoa, neste dialeto latino tão criativo, que nos trópicos se tornou muito mais sonoro do que português falado pelos lusos contemporâneos. Devemos ter orgulho sim de nossa arquitetura e escultura barrocas, cuja matriz se mantém tão bem conservada nos maravilhosos palácios e igrejas por todo território português. E nossa feijoada, cozido, arroz com feijão, galinha de molho pardo, quindins e pudins, pão de ló... tudo aprendido com nossas ancestrais portuguesas! Porque será que nossos irmãos hispano-americanos curtem tanto a antiga metrópole espanhola, visitando muito mais Madri do que nós, a bela Lisboa? Vamos dar um basta a qualquer piada que ridicularize os portugueses! É tempo de fazermos a paz com nossos ancestrais, mistura fantástica de visigodos, celtíberos, mouros, judeus, ameríndios e indianos, africanos, e passarmos a admirar o bom e belo legado deixado por nossos antepassados lusitanos na América Portuguesa e no mundo inteiro, dos Açores à cidade do Cabo, de Macau e Goa à Guiné, de Maputo a Olivença e Oeiras do Piauí! Chega de lusofobia! Resgatemos nossa auto-estima como descendentes deste povo sério e valoroso. Luso-descendente com muito orgulho!
Luiz Mott Comendador da Ordem do Rio Branco e do Mérito Cultural
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