quarta-feira, 11 de maio de 2011

Sócrates arrisca-se a ganhar as eleições

Estamos a menos de um mês das eleições e não é que Sócrates está a discutir, taco a taco, as eleições com o PSD? Quem diria que, em algumas sondagens como as da Marktest para o Diário Económico e TSF e da Católica, o PS aparece mesmo à frente nas intenções de voto.
Depois do desgaste de seis anos de governação; depois da sucessão de casos duvidosos e polémicos (Freeport, TVI, o diploma alegadamente passado a um domingo ou as alegadas ‘assinaturas de favor' naquelas casas esquisitas na Guarda); depois de ter impingido aos portugueses quatro PEC e dois orçamentos de austeridade, depois de ter deixado como legado um desemprego, défice e dívida em valores recorde, não é que Sócrates se arrisca a ganhar as eleições de 5 de Junho?
No resto da Europa, os líderes que implementaram as medidas de austeridade estão a cair um a um. Na Irlanda, Brian Cowen desapareceu do mapa político; em Espanha, Zapatero rendeu-se às sondagens e já não se volta a candidatar; em França, Sarkozy foi ultrapassado por Marine Le Pen e Strauss Kahn; em Itália, a popularidade de Berlusconi anda pelas ruas da amargura e mesmo nos EUA, não fosse o Bin Laden, e Obama já teria comprometido a reeleição dos democratas. Por cá, Sócrates arrisca-se a fazer o ‘hat-trick' e a ser primeiro-ministro pela terceira vez. Como dizia ‘sir' Churchill, na guerra só se morre uma vez, mas na política morre-se muitas vezes. E à terceira Sócrates volta a ressuscitar nas sondagens.
E porquê? É a chamada ‘one million dollar question'. É uma pergunta que já nos custou muito dinheiro e que se calhar ainda nos vai custar muito mais. Os mais irónicos diriam que é a ‘78 billion euro question'.
E a resposta é simples. As pessoas têm medo da chamada agenda liberal de Pedro Passos Coelho! Basta recordar que, depois do estado de graça inicial, as sondagens começaram a ser menos simpáticas com o PSD quando este apresentou as propostas de revisão da Constituição que pretendiam riscar da Lei Fundamental as expressões "tendencialmente gratuito" no capítulo da saúde e "sem justa causa" na proibição dos despedimentos, colocando, ao invés, a enigmática "razão atendível". E, no programa eleitoral apresentado esta semana, o PSD vai ainda mais longe e liberaliza o que nem a ‘troika' ousou liberalizar.
E as pessoas têm medo desta agenda liberal e tendem a ser conservadoras na hora de votar. Como diria o irónico Tom Wolfe, um conservador é um liberal que já foi assaltado. E, se calhar, os portugueses preferem voltar a ser assaltados por quem lhes vai apertar o cinto e esvaziar os bolsos, como diria Paulo Portas, do que arriscar a ficar sem as calças.
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Pedro Sousa Carvalho, Subdirector do Economico

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